terça-feira, 30 de setembro de 2008

CORRUPÇÃO MATA. Análise de Délio Prates, do Jornal Folha Vitória. Comentário do OCLARO.

FONTE: JORNAL FOLHA VITÓRIA - COLUNA DE DÉLIO PRATES.

Délio Prates

Advogado, Especialista em Direito Empresarial; Contador; Diretor da Faculdade Candido Mendes de Vitória, Secretário Geral da Transparência Capixaba; Conselheiro do Conselho Estadual de Ética Pública.

E-mail: delio.prates@folhavitoria.com.br

25/09/2008 às 14h46

Corrupção mata


Nesta semana o Brasil foi reprovado mais uma vez na prova da percepção da corrupção, como no ano passado nossa nota foi de 3,5 no IPC 2008 – Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional.

Tirar 3,5 numa nota que poderia chegar a 10 é um sinal de que alguma coisa está mal no país. A Transparência Internacional considera que países que tem notas abaixo de 3,0 são aqueles em que a corrupção é endêmica, onde ela afeta todos os setores da vida da sociedade, e nós estamos próximos deste limiar.

Podemos também observar que o índice de 3,5 está mostrando claramente que as notas do Brasil estão abaixo de nossa média histórica de 3,64 nos últimos 14 anos e mostra que se continuar a repetir esta nota nossa média tem a tendência de queda.

Mas o que significa toda esta sopa de números que os jornalistas adoram e que a maioria das pessoas tem dificuldade de entender e assimilar o seu real significado e utilidade.

O índice brasileiro demonstra cabalmente a total ausência de uma política de estado coordenada e estruturada de combate a corrupção, política esta que não pressupõe uma tacada única, o combate efetivo à corrupção e a improbidade administrativa deve ser conduzida como uma soma de pequenas atitudes da sociedade coordenadas pelo poder público que somadas produzirão um efeito reparador na convivência dos cidadãos como um todo.

Seria como, por exemplo, não se tolerar de uma vez por todas com a parada e/ou estacionamento irregular nas cidades, parou em fila dupla mesmo que por uns poucos minutos, sem trancar o carro, mas resultaria numa multa, em caso de demora guincho no carro, com todos os ônus que isto representa. Os pequenos atos corruptos dos cidadãos, como no caso de parar em local proibido, “só por uns minutinhos” ou andar sem cinto de segurança, “são só duas quadras”, todas estas pequenas transgressões também são atos de corrupção, levam á banalização dos atos e chega à tolerância para com a grande corrupção, do tipo “rouba, mas faz”.

No Brasil vemos muitos políticos que são políticos profissionais a vida toda, seus salários como políticos são conhecidos de todos e sabe-se que sua origem familiar não é de ricos, de repente aparece o sujeito, rico, com um patrimônio muito acima do que poderia se esperar dos salários que os seus cargos lhe pagaram e fica por isto mesmo, não seria o caso de se questionar de onde vem o talento excepcional para os negócios, quando tivermos tolerância zero para a má origem do patrimônio destes novos ricos da política, também teremos uma melhoria nos índices como o IPC da Transparência.

Como a própria Transparência Internacional divulgou nesta ultima pesquisa muitas das vezes o ato corrupto significa a diferença entre viver e morrer para o cidadão que se encontra aguardando o atendimento em um dos muitos corredores de Prontos Atendimentos por este Brasil afora, ou alguém duvida que o dinheiro do mensalão, para me ater ao maior dos casos de corrupção, aplicado no Ministério da Saúde não salvaria pelo menos uma vida destes negligenciados indigentes cidadãos brasileiros? E o IPC do Brasil estagnado 3,5!

Publicado por Délio Prates 1 Comentário

Comentários

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03:03h - 29/09/2008
Fernando Claro

EStimado Délio Prates,

Tudo bem?

Infelizmente não posso discordar de sua constatação e análise até por que sou vitimado e molestado pelos agentes públicos dos executivos federal, estadual e municipal de forma reiterada e cruel.

Contudo vejo mudanças através do Portal da Transparência disponibilizado pelo governo federal coisa que o governo estadual do ES, e a PMV não acompanhou, numa total demonstração de soberba e "se achismo" numa flagrante afronta contra a cidadania.

Afirmo e reafirmo que não é dever do cidadão paparicar gestor público ou outro agente público dos três poderes. A função primacial e fundamental deles é prestar serviços de qualidade para o Povo Brasileiro, na forma do artigo 37 da CF e demais ordenamento jurídico.

O Político Profissional jamais representará e respeitará o povo e o sufrágio porque após eleito deixa de ser cidadão passando a viver num mundo alheio onde não enfrenta fila, não faz compra em feiras nem em supermercados, farmácias e demais estabelecimentos e sequer entram numa Unidade de Saúde para fiscalizar, certamente com medo de ser infectado e de se misturar com o povo miserável, punido e mal pago, que só lhe servem em épocas de eleição, como massa de manobra, tal estamos a ver.

Vivem uma esquizofrenia e jamais se achegam próximo dos problemas da comunidade, e sequer sabem quanto é uma taxa de lixo, gás ou água. Já não colocam mais a mão nos bolsos para fazerem compras. Vivem no conforto, mimos e mordomias do poder descaracterizando-se pela máquina política de uma democracia representativa insuficiente, ineficaz, infrutífera, iníqua e infeliz.

O trato com a coisa pública já se vulgarizou e estiolou-se o bom caráter de quem o tinha, tornando-se abomináveis criaturas que se movimentam para satisfazerem seus pares e sócios de empreitadas estranhas, conforme nos faz prova o caso da vergonhosa utilização da verba indenizatória por alguns parlamentares já com histórico maculado e outros debutando neste horrendo episódio.

Somos vitimados por setores dos três podres Poderes.
O joio deve ser separado do trigo e estamos assistindo o barulho de um novo tempo.

Somente através de uma democracia do povo, pelo povo, para o povo e COM o POVO, tal como numa democracia direta, tomaremos a direção de nosso destino.

Político profissional, com as nobres exceções que confirmam a regra, é coisa anacrônica, cruel, despudorada e vergonhosa.

Haverá um momento em que se envergonharão diante de sua prole e se dobrarão aos ditames da ética.
Isso tem que mudar e já está mudando com esta prática do controle externo de cada um dos três poderes, purulentos até então, mas com grande chance de recuperação e regeneração até nova camada epitelial no devir.

Esse é nosso alento.

A hora é essa, vamos nessa?

Saudações fraternas,
Fernando, OCLARO.blogspot.com.br "

Sr. ZÉ DIRCEU:À SOMBRA DO ESCÂNDALO DANTAS, por Raimundo Rodrigues Pereira.

FONTE: WWW.ZEDIRCEU.COM.BR

23/09/2008 13:08

À sombra do escândalo Dantas,

Por Raimundo Rodrigues Pereira

(Reportagem publicada na revista Retrato do Brasil, edição nº 13 - ago/set 2008)


"A Operação da PF para expor o submundo das finanças e da política mais escondeu que revelou


Raimundo Rodrigues Pereira

O delegado Protógenes Queiroz, comandante da Operação Satiagraha, ação da Polícia Federal (PF) que prendeu no dia 8 de julho, entre outros, o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, vê a investigação como um clímax. “Foi praticamente um grito que saiu da garganta de todos os brasileiros que se sentiam oprimidos por estarem, aí sim, algemados por poderes que até então não identificamos”. “A sociedade estava com isso entalado na garganta”, disse ele à Folha de S. Paulo no início de agosto.


Para muitos, o trabalho do delegado Queiroz permitirá chegar ao fundo do poço de duas tramas essenciais. Uma, financeira, a dos fundos em “paraísos fiscais” para aplicações de “não-residentes”, uma fachada por trás da qual se esconderiam, de fato, grandes investidores brasileiros. Outra, política, a do “mensalão”, movimentação ilegal de recursos pelo Partido dos Trabalhadores por meio da qual teriam sido feitos depósitos mensais regulares para a compra de apoio de parlamentares ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu primeiro mandato.


Daniel Dantas seria o elo entre as tramas. Foi o gestor do Opportunity Fund, constituído nas Ilhas Cayman para participar no processo brasileiro de privatizações nos anos 1990. E afinal, controlador da Brasil Telecom,
Telemig e Amazônia Celular, operadoras de telefonia surgidas naquele processo e que seriamjustamente as principais empresas financiadoras, com depósitos somados de 127 milhões de reais.


A história da Satiagraha, até agora, com a espalhafatosa operação do dia 8 de julho, com as prisões acompanhadas pela Rede Globo, com o vazamento controlado de informações para a mídia, é um escândalo que esconde questões essenciais. O desenvolvimento da Satiagraha ajuda a descobrir quais são essas questões e porque estão sem resposta.


Quando a operação começou, no início do ano passado, considerava-se que o ponto de partida eram as informações do disco fixo do servidor do Opportunity, o computador central do banco. Ele fora apreendido em 2004, durante a Operação Chacal, investigação da Polícia Federal sobre grampos clandestinos que teriam sido realizados a mando de Dantas contra concorrentes e mesmo pessoas como Luiz Gushiken, então ministro da Comunicação Social e Assuntos Estratégicos. E seus segredos haviam sido protegidos por três decisões da Justiça, uma delas da ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal, negando pedido feito por Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados que investigava o “mensalão”.


Em março de 2007, no entanto, um pedido do Ministério Público Federal de São Paulo foi aceito pela 2a Vara da Justiça Federal no estado e contornou a proibição anterior. O disco fixo foi aberto e seu conteúdo passou às mãos dos investigadores. A partir daí, a PF trabalhou com essas informações e produziu laudos técnicos para serem entregues eventualmente à Justiça, ao final do inquérito. Foram três os laudos, todos eles do Instituto Nacional de Criminalística (INC), da Diretoria Técnica da PF:

• o laudo 1351/2008, que examinou o dispositivo de armazenamento de dados do computador e atestou a sua integridade e confiabilidade para uso como prova na justiça;
• o laudo 1354/2008, que disponibilizou as informações contidas de forma confiável e acessível para consulta legal;
• e o laudo 1773/2008, organizado a partir do anterior, de modo a responder às questões que a investigação formulava.


Na lisa, o sócio

As respostas desse último laudo são muito afirmativas. Em resumo, o INC diz que foram identificados 84 aplicadores no Opportunity Fund Cayman, gerido por Dantas do Brasil, mas reservado legalmente para “não-residentes”. E mostra a lista, com empresas e pessoas físicas, estas a grande maioria. E diz mais: que “a maioria absoluta” é de brasileiros. Um dos brasileiros que teve sua aplicação ilegal confirmada no laudo é Luiz Roberto Demarco Almeida, sócio de Daniel Dantas que rompeu com ele no fim dos anos 1990 e o denunciou posteriormente para alguns jornalistas. Demarco, um brasileiro, aplicou 150 mil dólares num dos subfundos do Opportunity em Cayman, o Agressive Equities, e mais 350 mil dólares em outro, o Brazilian Fixed Income Derivatives. O laudo diz também que o fundo movimentou 1,97 bilhão de dólares, no período registrado no computador, de 10/12/1992 a 23/6/2004.

Esses laudos, no entanto, demoraram: só ficaram prontos em 2008. A essa altura, a investigação já avançara. Trabalhava com uma análise preliminar do disco e, principalmente, com escutas telefônicas de suspeitos, autorizadas pela Justiça em julho de 2007. O comando da operação era então do delegado Protógenes Queiroz. No dia 27 de março, ele substituíra Ézio Vicente da Silva, também delegado da PF de Brasília. Uma semana antes, no dia 20, Silva apresentara ofício ao juiz que autorizara e acompanhava a operação de quebra do sigilo das comunicações de internet do Opportunity. O documento dizia que, nos dados interceptados no período analisado, a primeira quinzena de março, apesar do “enorme volume”, mais de 4 milhões de páginas de internet, “nada foi encontrado em nome de Daniel Dantas, Carlos Rodenburg (ex-cunhado de Dantas), José Dirceu e Nathalia (secretária da irmã do banqueiro). E pedia a suspensão do grampo.

Além disso, segundo se soube por artigo de Andréa Michael, publicado na Folha de S. Paulo, o exame preliminar do disco fixo da central de armazenamento de dados do Oportunitty “não continha informações relevantes que pudessem ajudar a elucidar os responsáveis ou beneficiários do mensalão”.

O artigo de Michael, publicado no dia 26 de abril deste ano, fez o delegado Queiroz considerá-la pessoa associada ao grupo Opportunity. Ele pediu a prisão temporária da jornalista na jornada espetacular de 8 de julho. O pedido não foi atendido.

De qualquer modo, já em meados de 2007, Queiroz não estava mais comandando uma investigação para buscar a conexão dos fundos off-shore ilegais do Opportunity com a má política do “mensalão”. Ele ainda buscava uma conexão de negócios ilegais com má política. Mas esta e aqueles eram diferentes. Os negócios ilegais eram os das “organizações criminosas” de Dantas e de Naji Nahas. E a má política era a decisão do governo federal de incentivar a formação de uma tele verde-amarela.

Como ele processou essa mudança? A conjuntura talvez ajude na resposta. Em meados de 2007, a ministra Dilma Rousseff encomendou ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um estudo para realização desse negócio. Na mesma época, a 26 de julho, Queiroz pediu à Justiça a quebra do sigilo telefônico de cerca de 20 pessoas ligadas a Dantas e Najas.

Dantas e Najas tinham uma relação que, em vários aspectos, convinha ao enredo imaginado por Queiroz. Os dois estavam envolvidos com negócios tidos como escusos. E também com a telefonia: Dantas, como já se sabe, e Najas, como logo se verá, após um exame do ninho de serpentes em que se tinha transformado o setor de telefonia brasileiro depois da privatização.

O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso privatizou o sistema Telebrás falando em acabar com o monopólio na telefonia. De fato, premido por uma dívida externa galopante, vendeu o bloco das estatais brasileiras – bastante dividido do ponto de vista político, pois os Estados administravam várias de suas partes – para um punhado de monopólios. No fim de 1998, quando a privatização ocorreu, o governo queria que a venda das telefônicas estatais fosse feita a grupos de fora, que trouxessem dólares para evitar a quebra do País – que acabou, afinal, acontecendo logo depois das eleições daquele ano.

A telefonia fixa estatal foi dividida para a privatização em quatro grandes áreas econômicas. O governo queria que as quatro ficassem com estrangeiros. Três acabaram ficando: uma com os espanhóis da Telefônica; outra, a Brasil Telecom (BrT), com um consórcio no qual estavam presentes a Telecom Italia, o Citibank e os grandes fundos de pensão das estatais; e uma terceira, a área da telefonia fixa internacional, com o mexicano Carlos Slim, da Telmex. Só uma, chamada de Telemar, ficou com grupos brasileiros, Jereissati e Andrade-Gutierrez.

Aparentemente, era para ficar cada um na sua área. Mas uma disputa enorme entre os grupos se desenvolveu, graças especialmente à telefonia celular, que acabou se tornando o motor do mercado. A Telmex passou a operar na telefonia móvel com a Claro, a Telefônica com a Vivo, a Telemar com a Oi e a Telecom Itália com a Tim. E cada grupo procurou avançar sobre o mercado do outro, porque as novas condições técnicas e a
convergência dos diversos meios de comunicação tornaram isso inevitável.

Em 2007, o delegado Queiroz, tudo indica, encontra Dantas e Nahas nesse campo de batalha, numa disputa dentro de um grupo perdedor, a BrT. Dantas fora o controlador da BrT na era dos tucanos. Baiano, muito ligado a financistas como Pérsio Arida, que fora presidente do Banco Central no início do governo Fernando Henrique e em 1998 estava no Opportunity, saiu desse processo como um dos grandes dirigentes da telefonia brasileira. A BrT era a grande empresa que comandava.


Mas ela não estava apenas ameaçada de ser engolida pelos outros grandes grupos. Estava corroída por ferozes brigas internas, todas envolvendo Dantas. A Telecom Italia, depois de um esforço para controlar a companhia, vendera sua parte no bloco para se concentrar na Tim. E se engalfinhava com o Opportunity por conta de um suposto sobrepreço num negócio de telefonia no sul do Brasil. Ambas as empresas contrataram
equipes de espiões e acabaram na Justiça, acusadas de efetuarem grampos clandestinos aqui e na Itália.

Fundos contra Dantas

O Citibank queria deixar a sociedade e embolsar dinheiro para curar feridas da enorme crise das hipotecas imobiliárias no seu paíssede, os EUA. Tinha um acordo com Dantas e mandavam na BrT por meio dele, desde a privatização, à revelia dos fundos de pensão das estatais, também sócios da empresa. Mas, em 2007, o acordo estava rompido. No início de 2005, numa reunião em Cayman, o Citi derrubara Dantas do comando do Citibank
Venture Capital/Opportunity Equity Partners, subfundo do fundo Opportunity na ilha e controlador da BrT, da Telemig Celular e da Amazônia Celular.

Os fundos de pensão das estatais também estavam acesos na briga. No novo governo petista, eles, também dirigidos por petistas, buscaram derrubar Dantas do comando do fundo nacional, organizado para participar da BrT, à semelhança do fundo de Cayman. A direção de Dantas neste fundo – o CVC Equity Partners FIA – tinha sido engolida por eles a contragosto no governo anterior, tucano. Em outubro de 2003, já haviam afastado Dantas da gestão desse fundo. A partir de então, buscaram uma aproximação com o Citi. E a oportunidade de um grande acordo surgiu com a idéia do novo arranjo da telefonia imaginado pelo governo para criar a supertele verde-e-amarela. Citi e Opportunity venderiam suas participações na BrT para a Oi, novo nome do grupo formado pela Telemar e sua operadora de telefonia celular. A BrT e a Oi se fundiriam para formar a tele brasileira. E o BNDES e os fundos das estatais se reagrupariam dentro da nova tele, a ser controlada pelos donos da Oi – os grupos de Carlos Jereissati e Andrade- Gutierrez. O argumento é que isso criará uma tele verde-amarela, uma nova multinacional brasileira, numa área estratégica, tecnológica.


Dantas e Nahas, inicialmente, estão em campos opostos na briga dentro da BrT. Nahas é uma espécie de eminência parda do presidente da Telecom Itália, Tronchetti Provera. Mas, em 2007, a situação era outra. No ano anterior, Nahas já trabalhara, por uma comissão gorda garantida por Provera – a revista CartaCapital fala em 20 milhões de euros – para mediar um acordo com Dantas, que acaba não saindo.


Em abril de 2007, Dantas pareceu ter percebido uma saída no negócio da tele patriótica. Contratou, então, Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado histórico do PT e dos movimentos de direitos humanos, para servir de conselheiro nas inúmeras brigas judiciais em que estava envolvido e de mediador na negociação de venda de suas participações na telefonia. Greenhalgh é amigo de Dilma Rousseff, a ministra da Casa Civil, que está no centro da articulação do negócio da tele brasileira. É amigo também de Gilberto Carvalho, chefe do gabinete do presidente Lula. E ainda de José Dirceu que, ao contrário de Gushiken, inimigo frontal de Dantas, recebeu o banqueiro no Palácio do Planalto quando ainda era chefe da Casa Civil.

O paladino Queiroz

O segundo semestre de 2007, nesse contexto, é a hora em que se prepara o acerto geral. Nahas espera negócios e comissões. Dantas quer sua parte na telefonia, que estima em 1 bilhão de dólares. E o delegado Queiroz se vê como o defensor do bem, no meio de uma disputa maligna.

O relatório do delegado Protógenes Queiroz, no qual expõe os motivos pelos quais pede ao juiz autorização para as prisões que comandará no dia 8 de julho, tem 245 páginas. Cerca de 40 dos laudos técnicos preparados pelo INC da PF, com apoio do Banco Central e da Receita Federal. É a parte mais importante do trabalho. O restante vem das escutas telefônicas, basicamente, ou é inspirado por elas. São resumos de diálogos, algumas vezes seguidos de análises localizadas, outras, de observações de pretensões mais amplas. Não poucas vezes, Queiroz aparece, em suas próprias palavras, sempre num português claudicante, como um paladino. “Ante as ameaças de corsários saqueadores das riquezas do nosso país, deixo aqui registrado que o amanuense, que ora subscreve a presente peça, e por cautela alerto aos incautos, seja de forma individual ou organizados criminosamente para tal finalidade, que estarei de prontidão, comparado a um integrante da Brigada dos Tigres, fazendo um acompanhamento detalhado do futuro Fundo Soberano e ao menor movimento de ações ilícitas de tais reservas cambiais ou fraudes com os papéis que o governo federal pretende lançar começaremos desde já uma nova e complexa investigação”, diz ele a certa altura.

Com as escutas, Queiroz reconstrói Naji Nahas. O investidor tinha quebrado a si próprio e à Bolsa de Valores do Rio de Janeiro em 1989. E, os diálogos mostram, Nahas continua numa espécie de pântano, cercado por uma dúzia de doleiros, com seus negócios, geralmente menores, e por políticos aparentemente decadentes, como o ex-prefeito paulistano Celso Pitta, que os grampos mostram quase como um pedinte, sempre a lhe implorar uns tantos milhares de dólares a mais do que ele fornece, por motivos não se sabe bem quais são.

Queiroz eleva Nahas a outro nível. A questão do Fundo Soberano mostra como é feita essa proeza. Num dos relatórios com que pede ao juiz a prorrogação dos grampos dos telefones de Nahas, dedica 33 linhas ao assunto. Diz, então, um disparate atrás de outro. Um exemplo: que o mecanismo do Fundo Soberano foi adotado por alguns tipos de países, entre os quais “grandes produtores de petróleo”, “cuja característica básica é a unicidade entre atividade pública e privada, ou seja países totalistas onde alguns ‘empresários’ são considerados os titulares dos poderes políticos do país”.

O relatório conclui essa parte com uma frase espetacular. “Conforme acima, o jornalista Leonardo Attuch chega a perguntar a Naji R. Nahas se já pode divulgar Nahas como a pessoa que está à frente do Fundo Soberano. Mas Nahas pede calma, diz que por enquanto não seria conveniente”.

Queiroz sente que os fatos em seu poder são poucos para comprovar uma sociedade entre Dantas e Nahas. Mas, não se intimida. “Assim, o que temos de concreto é que Daniel V. Dantas prestou depoimento na Itália e está utilizando esse fato para criar uma cortina de fumaça onde Nahas seria um corruptor de autoridades, mas na verdade ambos continuam articulando nos bastidores uma forma de desacreditar, principalmente, a Polícia Federal na condução das investigações”. Que fatos provam essa articulação ele não diz. Mas vai em frente.

Luiz Eduardo Greenhalgh teve seus telefones grampeados a partir de 31 de março deste ano. Essa decisão parece ter sido tomada depois da análise do diálogo gravado no dia 26 de março deste ano, às 15h53m01s, a partir de um telefonema de Humberto Braz, executivo que foi diretor da BrT quando a empresa era controlada por Dantas, para o advogado petista, então, assessor do banqueiro. O resumo apresentado no relatório tem oito linhas. Ele é incompreensível. Diz que os dois “tratam sobre o negócio das teles, na proposta da Telemig, estariam aceitando que recebecem este ‘cheque’ de cada um (dos interessados) está contribuindo que vale US$60,000,000.00 (sessenta milhões de dólares americanos); mas em compensação querem 1/3 da Telemig para levar à arbitragem” (esse 1/3 equivale a 110 milhões), Humberto diz que eles estão pra receber 260 e se for para pagar 110 estarão pagando com “nosso dinheiro”, e que a diferença para eles é de 20 milhões, aproximadamente 0,3% do total”. “Gomes [que seria o apelido de Greenhalgh no grupo Dantas, continua o relato do grampo] diz que os compradores estão ‘orientados’ ‘para resolver’ o “nosso”problema. ‘Gomes’ diz que vai fechar hoje”.

Logo a seguir no relatório aparece a “Análise”. “Aparenta que o valor que estava sendo discutido trata do “custo” para o trabalho de “tráfico de influência”. “Então, a divergência não estava no valor do negócio e sim em quanto cada parte interessada estaria disposta a pagar para criação da ‘SuperTele’ exigindo os lobista a quantia de US$ 260,000,000.00 (duzentos e sessenta milhões de dólares americanos), valor que possivelmente irá constituir ‘caixa dois’ de alguma campanha eleitoral”.

Interpretação absurda

Esse resumo, depois das prisões de 8 de julho, vazou para a imprensa. Os jornais o publicaram. Não o texto estropiado original; mas corrigindo os erros de português e tentando dar sentido à algaravia. Diz, por exemplo, o diário O Globo em 23 de julho no artigo “Lobby de US$ 260 milhões”, com manchete de página inteira: “Relatórios do Serviço de Inteligência da Polícia Federal aos quais O GLOBO teve acesso, apontam que o
grupo de lobistas suspeitos de ligação com o banqueiro Daniel Dantas – integrado, segundo a PF, pelo ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh – exigiu em março deste ano US$ 260 milhões para viabilizar a criação da supertele (fusão entre a Brasil Telecom e a Oi, que foi assinada em abril), junto ao governo federal. O dinheiro seria usado posteriormente para a formação de caixa dois para a campanha eleitoral, acusa a PF”. Diz ainda o jornal: “Segundo a PF, Opportunity e Citi deveriam arcar cada um com US$ 130 milhões”. Na conversa grampeada entre Braz e Greenhalgh, continua o diário, “a PF constata que a proposta pendente era do Citi, que envolvia um terço do valor da Telemig”.

O bom senso, no mínimo, sugeriria aos editores desses artigos que algo estava errado na narrativa da PF: Braz e Greenhalgh estavam trabalhando para Dantas, profissionalmente. Queriam receber, por fora, de Dantas, mais 130 milhões de dólares? E do Citi, adversário de Dantas, outros 130 milhões? E num negócio global de menos de US$ 1 bilhão?

Parece absurdo. Não se deveria, antes de publicar a pataquada suspeita com tanto destaque, ouvir a versão de Greenhalgh, que disse em nota, que a conversa entre ele e Braz se referia ao negócio por inteiro e não a qualquer comissão? Que os 260 milhões “nosso”, a que Braz e ele se referiam, tratava da parte à qual estavam vinculados – ou seja, à parte do Opportunity?

Outro exemplo da qualidade das análises enviadas pela PF aos juízes para convencê-los da necessidade de manter os grampos telefônicos vem de um telefonema de Humberto Braz de 21 de maio, 14h17m03s. Braz fala com um tal Gilberto. São 13 falas curtas. Usaremos B para Braz e G para Gilberto. “G: (inaudível). B: Fala Giba... G: E aí, tudo bem? B: Tudo bem, deu uma enrolada aí, a Andréia te passou um negócio? G: passou... B: E aí é seguinte... e eu não vou né... e ele vai viajar, então vai ficar pra semana que vem mesmo, e o que ficou acertado que se por acaso você tiver com ele ou qualquer coisa que o valha, é o seguinte: tá decidido aqui, fazer em duas vezes a consultoria dele lá... “conta curral”... G: Tá. B: 50% já e 50% na hora que for aprovado lá no meio ambiente. G: Tá. B: E ir direto as... G: Oi...alô... alô... Fim da ligação”.

Hipótese ridícula

Depois vem a “Análise”: “Humberto José da Rocha Braz conversa com Gilberto (possivelmente Gilberto Carvalho, assessor do gabinete da Presidência da República e pessoa diretamente vinculada a José Dirceu de Oliveira Silva, ex-deputado federal) e diz que a Andrea (possivelmente Andrea Michael, jornalista da Folha de São Paulo) vai passar para ‘ele’ (José Dirceu) aquela matéria que está muito bem feita. Que será realizado o pagamento referente a “Consultoria”de José Dirceu 50% agora e 50% quando for aprovado lá no “Meio Ambiente” (aparentemente se refere ao Ministério do Meio Ambiente) e a “consultoria” seria paga em uma “conta curral”, podendo significar pagamento no exterior com sonegação de impostos e evasão
de divisas”.

O que esse grampo e sua análise provam? A partir do fato – os diálogos – é feita uma dezena de conjecturas: Gilberto é o assessor do presidente; Andréa é a jornalista da Folha; José Dirceu está na parada; “conta curral” é pagamento no exterior. Por que as conjecturas são feitas? Evidentemente, porque o analista parte do pressuposto de que existe, na história que investiga, um vínculo Braz, Gilberto Carvalho, José Dirceu. E sabe da matéria da Folha feita por Andréa Michael, considerada suspeita pela direção da Operação Satiagraha. É crime levantar essa hipótese? Não é: é exatamente tarefa do analista levantar hipóteses.

É uma hipótese boa ou ruim? É um bom ou um mau analista? Parece ser uma hipótese simplesmente ridícula. Nas 400 páginas do trabalho da equipe de Queiroz que Retrato do Brasil leu, ressalvados os trechos referentes aos laudos técnicos do INC citados, o trabalho de análise, que orienta a busca dos dados, parece merecer igual avaliação: é ridículo. A hipótese básica de que existem duas organizações criminosas, a de Dantas e a de Najas, encimadas por uma terceira, cuja cabeça aparentemente estaria no Palácio do Planalto não se sustenta nos fatos. E como a hipótese mãe é ruim e o trabalho é mal feito, as coisas não andam. Ficam uns arapongas escrevendo relatórios sofríveis, que provavelmente ninguém leva mesmo a sério e que acabam servindo basicamente para levar fofocas a jornalistas que, ma editados, acabam tornando a parte política a imprensa conservadora brasileira ruim como ela é.

E uma investigação relevante, como a dos fundos off-shore inventados pelo Banco Central do Brasil para ajudar a escancarar as fronteiras econômicas nacionais, para a qual a PF poderia dedicar tempo e talento, fica esquecida".

23/09/2009

Clique aqui para ler a Revista. "

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Sr.ZÉ DIRCEU ENTREVISTA CRISTOVAM BUARQUE:"A REVOLUÇÃO NO SOCIAL ESTÁ NA ESCOLA."

FONTE: www.zedirceu.com.br

08/09/2008 16:23

Cristovam Buarque Por Cristovam Buarque

A revolução no social está na escola


Para ex-ministro Cristovam Buarque, o grande desafio da esquerda é conscientizar o pobre da importância da educação. Para melhorar o ensino, sugere medidas políticas e carreira nacional do magistério.


A revolução no social está na escola

Para o educador Cristovam Buarque, o grande desafio da esquerda é conscientizar o pobre da importância da educação. Nesta entrevista, o ex-ministro da Educação no primeiro governo Lula e senador pelo PDT avalia como transformadoras as medidas do MEC, mas as considera insuficientes e defende a instituição de um programa para a formação de 100 mil professores por ano para que o país tenha escolas com melhor qualidade e o ensino fundamental se transforme na base que vai preparar os jovens para a educação do futuro.

Nesse modelo, o senador defende que os professores sejam contratados por concurso federal e os salários médios sejam de R$ 4 mil, com carga horária de 5h. Cristovam fala também de política, economia, propõe a mobilização dos partidos de esquerda e a realização de um debate nacional para a escolha dos pré-candidatos a sucessão presidencial, e faz uma análise do governo Lula: “competentíssimo na área de integração política, mas por conta disso, houve um retrocesso no nível de consciência.”

Para ouvir versão editada, clique: parte 1 e parte 2

Zé Dirceu - Cinco anos e meio de Brasil sob governo de esquerda, depois de termos vivido décadas de ditadura e governos conservadores. Qual a sua avaliação do governo Lula?

Cristovam Buarque – Quando comparo o governo Lula com seus antecessores, não tenho a menor dúvida de que se não for o melhor, está entre os dois ou três melhores. Agora, se comparo com o que eu esperava, não é tão bom. Dos outros, nós não esperávamos nada. No caso do Lula, era esperado que houvesse, de fato, mais vigor transformador.

Esse vigor aconteceu na política externa. Aqui há uma diferença concreta. O governo, como sempre defendi, foi conservador na economia. Foi generoso no social, o que acho positivo e, extremamente competente como aglutinador político. O Brasil nunca teve um governo que aglutinasse tanto. Às vezes, acho até que exagera.

Essa aglutinação é o único ponto que eu avalio pior do que os outros, mas por causa da qualidade. O governo desarmou muito a polêmica no debate, a luta de classes. Culturalmente também vejo retrocesso. Pela sua capacidade de aglutinar, não por um defeito ou por reprimir as bases, mas por aglutinar tanto que os intelectuais ficam encabulados.

O governo Lula é bastante competente na economia. Tinha que ser como está sendo, com algumas mudanças, mas muito seguras. Não é igual ao anterior, é melhor. Ousado na política externa, avançado, de esquerda. Generoso, o que é uma forma de esquerda, cristã, no social. Competentíssimo na área de integração política e por conta disso houve um retrocesso no nível de consciência. Vou dar um exemplo: a parte da generosidade levando o Bolsa Família a todos. O governo gerou um retrocesso no nível de consciência da população. Antes, quando ela recebia crédito do Bolsa Escola, com a idéia de que tinha que estudar, pensava “eu recebo o Bolsa Escola porque meu filho estuda”. Agora, pensa “eu recebo o Bolsa Família porque sou pobre”. Isso é um retrocesso. A tomada de consciência do pobre da importância da educação é o grande desafio da esquerda hoje.

Quando éramos jovens, o desafio era tomar o capital do capitalista e dar para o trabalhador. Agora, o principal desafio é pegar o filho do trabalhador e colocar na escola do filho do capitalista. Só que o trabalhador antes tinha a consciência de pegar o capital do capitalista. Hoje, o pobre não tem a ânsia de colocar o filho na escola do rico.

Zé Dirceu – Há alguma medida a curto prazo para reverter essa situação?

Cristovam Buarque – Há muitas medidas de curto prazo e, aliás, que são tomadas. Não considero ruins as políticas feitas pelo Ministério da Educação, que são transformadoras, mas insuficientes. O Fundeb, o PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), o IDEB (Índice de Desenvolvimento de Educação Básica) são iniciativas muito positivas. Falta dizer como levar isso para o Brasil inteiro. A minha proposta é que esse processo se dê por partes. Cheguei a iniciar em 29 cidades os CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) do Lula, só que não se chamou assim. Era um CIEP por cidade. Você chega na cidade e todas as escolas são em horário integral, com equipamentos modernos. A gente concentra no ensino fundamental, porque os meninos que chegarem no 2º grau sem um bom ensino fundamental não vão aproveitar a nova educação. Nesse modelo, as escolas teriam professores selecionados através de um concurso federal, criando uma carreira nacional do magistério.

É uma medida para ser iniciada no curto prazo mas que leva 20 anos para concluir. Eu proponho a contratação de 100 mil professores por ano nessa nova carreira. Os que estão aí, se quiserem podem fazer o concurso, mas se não passarem, não entram. Contratando 100 mil, dá para pagar R$ 4 mil por mês. Pegar o plano de cargo e salário do Colégio Pedro II (colégio público do Rio de Janeiro considerado modelo) e colocar para 100 mil professores, incluindo reforma de escola, porque o número vai subindo. Você põe 3 milhões de crianças com 100 mil professores dessa nova carreira. No ano seguinte, mais 100 mil. O número dessas crianças vai crescendo e em 20 anos é possível cobrir o Brasil inteiro. Ao mesmo tempo, continuar o que está sendo feito. A Educação não está pior do que antes. A sensação do pior é porque as exigências hoje são maiores do que antes.

Zé Dirceu – E a consciência também.

Cristovam Buarque – A consciência de que é importante... É fácil falar, eu sei, politicamente é fogo. Os sindicatos certamente não vão apoiar. Nos primeiros anos, vamos ter dificuldades para conseguir 100 mil professores, porque não vai ter gente qualificada. Na universidade, os qualificados não vão para a pedagogia, nem para licenciatura. No curto prazo, é continuar com o que está aí e começar esse salto por cidades.

Zé Dirceu – Você acha que a universidade cumpre um papel à altura dos desafios da educação fundamental, hoje, no Brasil?

Cristovam Buarque – Não creio. Ela praticamente está de costas para a educação de base. Desconhece.

Zé Dirceu – Como aconteceu isso?

Cristovam Buarque - Aconteceu pelo apartheid social que se construiu no Brasil nas últimas décadas. Quando éramos jovens, a melhoria de vida do povo nos beneficiava. Hoje, ela pode não nos beneficiar economicamente porque os recursos são limitados. Inclusive os ecológicos. A universidade virou as costas porque houve um apartheid e ela está do lado dos “brancos”. Perdeu o contato com o povo. Além disso, tem a violência que caracteriza-se mais como uma violência das camadas sem alternativas, que são os pobres. Então, criou-se o conflito. Junte a isso o neoliberalismo criando um individualismo muito grande. Nós, os mais velhos, somos culpados.

Zé Dirceu – A universidade não tem uma política pública, nacional, uma mobilização para formar professores; ou para, como eram os colégios de aplicação ligados às universidades, reformar a própria educação do país. Por outro lado, a universidade não consegue resolver seu dilema com a iniciativa privada, entre o financiamento da pesquisa, a apropriação pelo pesquisador e a criação de fundos privados. Na China e Coréia, por exemplo, existe uma simbiose entre iniciativa privada, universidade e empresas. As universidades têm fundos, pagam o pesquisador, investem, têm centros de pesquisas construídos em decorrência disso. No Brasil a universidade está com dinheiro público e todinha encastelada como público.

Cristovam Buarque – A universidade brasileira ficou com medo do povo e dos ricos. Medo do povo e do setor privado. Ela está no pior dos mundos. Eu defendo uma proposta que ajudaria a puxar mais gente dentro da universidade para a educação de base. Quem quiser ser professor, estuda de graça e isso vale também para uma universidade particular de qualidade, uma espécie de ProUni automático para quem quiser fazer pedagogia ou licenciatura.

Nas universidades estatais, creio que podemos começar a ter cursos pagos ou até que não existam. Por que se viciou em dizer que público é o Estado? Público é aquilo que serve ao interesse público. Tem cursos nas universidades estatais que não têm nada a ver com o interesse público. Primeiro, porque estão sobrando profissionais, e isso não tem a ver com o interesse público, mas com a vocação. Segundo, porque são áreas que não vão beneficiar o projeto de Nação e nem o povo excluído. Se beneficia o projeto de Nação, não precisa beneficiar o povo. Grandes cientistas, as grandes áreas de ciências e de tecnologias, grandes filósofos e historiadores. Isso interessa ao projeto de Nação, não precisa ter contato, nem resolver o problema do social. Agora, medicina e as áreas técnicas precisam ter compromisso popular.

Engenharia tem que respeitar o meio ambiente. Arquitetura voltada para moradias populares nas universidades estatais, quem quiser fazer arquitetura para grandes prédios de banco, estude em universidades particulares. Eu sou contra esse negócio de dizer rico paga a universidade e pobre não paga. O que me interessa é o serviço que ele vai prestar. Se o filho do brasileiro mais rico quiser estudar para curar a AIDS, por que o pai dele vai pagar? O pai precisa pagar os impostos.

As forças progressistas precisam começar
a se preparar para 2011 não ter retrocesso

Zé Dirceu – A questão da Educação no Brasil não vai se mover sem medidas audaciosas. Antes, a educação tinha problemas que nós resolvíamos com dificuldades, mas havia tempo. Agora, estamos correndo contra o tempo. A China forma 400 mil engenheiros por ano, dez vezes a mais do que os EUA. E como nós vamos fazer? Colocamos um piso de R$ 950 para os professores e os governadores vão ao Supremo para derrubar. Pior é que são governadores dos Estados mais ricos do país - Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo - coincidentemente governados pelos tucanos.

Cristovam Buarque – Eles estão contra os R$ 950, mas até dizem que não é por isso. Eles estão contra uma coisa tão importante quanto os R$ 950. Na Câmara, a Fátima Bezerra, deputada do PT, colocou que a carga horária de aula seria no máximo 67% da carga de trabalho. Ou seja, se o professor dá 8h, tem que dar 5h e já é muito. Professor tem que dar 4h, no máximo. Esses caras estão contra isso porque vão contratar mais. Além do quê, acho que estão manipulando a opinião pública. Quando você fizer isso, vai diminuir o número de professores de licença que é muito grande. Aqui em Brasília, há pouco tempo, chegou a 30% o número dos professores em licença. Quanto custa isso? Vai diminuir a repetência quando o professor der assistência após a aula.

Zé Dirceu – O barato sai caro.

Cristovam Buarque – Agora, vamos imaginar que as contas deles estejam certas. O que diz o governo de São Paulo? Vai precisar de R$ 1, 4 bilhão, menos de 2% do orçamento do Estado. A elite brasileira foi desse jeito na Lei Áurea. Quando veio a Lei, alguns quiseram impedir e outros quiseram indenização. Foi por isso que o Rui Barbosa mandou tacar fogo nos documentos, com medo que os donos de escravos pedissem indenização. E se tivesse deixado aqueles documentos, tinha gente pedindo herança agora. Tem que haver uma mudança grande de consciência sobre a importância da educação como projeto de Nação.

Zé Dirceu – No setor empresarial, que investe, há demanda por técnicos e profissionais nas diversas áreas. Se o país formar esses profissionais, o mercado contrata na hora.

Cristovam Buarque – Hoje, as agências de emprego têm vaga sobrando. E tem, também, desempregado sobrando, em todas as áreas. Outro dia encontrei, numa praia de Alagoas, dois empresários portugueses que queriam colocar um haras. Eles foram para lá e desistiram. Eles diziam que há cavaleiros ótimos, mas hoje em dia tem que colocar no computador o que o cavalo comeu, o peso, olhar curva de desempenho e aqui não tem porque são “analfabetos”, eles disseram. E desistiram de investir aqui. Veja bem, vaqueiro hoje precisa saber informática. Com isso, estamos ficando muito para trás e rapidamente.

Como daremos esse salto? Eu não acredito que as forças conservadoras façam isso, mas creio que as forças progressistas, com suas divisões, precisam começar a se preparar para 2011 não ter retrocesso, inclusive do piso, do PDE. Se quisermos dar o salto adiante, se não tomarmos cuidado, haverá retrocesso. Para mobilizar a militância que está paralisada, estou defendendo junto ao PSB, PDT e acho que tinha que ser com o PT, que nós saíssemos pelo Brasil, 2 a 4 candidatos, um de cada partido, como se fossem pré-candidatos para ver quem vai ser o candidato. Em cada lugar, teria um diferente. Mas fazer um roteiro em 2009, ou no primeiro semestre, antes de dividir porque isso vai ser a tendência, em 20 capitais e mais 20 cidades de porte médio, porque as pessoas estão desprezando essas cidades. Ciro Gomes e outros. Debater qual o projeto de cada um e mobilizar para 2010.

Há uma desmobilização, porque dizemos “o Lula está aí, não é preciso se mobilizar”. O Lula aglutina, [faz] o que quer. Ao contrário de uma pessoa que eu admiro que é o Chavez, que dividiu o país, talvez até com mais vontade de transformar. O Lula aglutinou e nos acomodou. Estamos acomodados, e falta um ano e meio.

Zé Dirceu – Como você entende que vai se desenrolar esse processo nos próximos dois anos e meio? Lula faz o sucessor? Quais as condições para o êxito dessa empreitada?

Cristovam Buarque – O Lula faz o sucessor, mas o sucessor não faz Lula, não faz o jeito do Lula. Lula sem Lula não vai existir.

Zé Dirceu – Precisa de uma maioria no Congresso sólida.

Cristovam Buarque – Uma maioria e a base mobilizada. Lula não precisou dessa base mobilizada, até o ajudou que não mobilizasse. Mas o próximo precisará do povo mobilizado, porque não terá a genialidade que tem o Lula na política, o carisma. Ele é uma coisa à parte que não vem todo dia. Lula pode fazer o próximo presidente, mas o presidente não faz o jeito do Lula, seja quem for.

Zé Dirceu – Na verdade, você vê vários candidatos em 2010 ou acredita que possa haver uma aliança com PDT, PCdoB, PT, PSB, PMDB, e que seria uma aliança imbatível?

Cristovam Buarque – Qual é o caminho que a gente segue para tentar juntar? Supondo que é melhor juntar, porque, às vezes, eleitoralmente, é melhor você separar. Se for para juntar, acho que a melhor maneira, ao invés de ficar nos conchavos, é fazer esse debate nacionalmente. Coloca o Eduardo Campos uma vez, na outra o Ciro Gomes, na outra vez eu vou, coloca a Dilma e na outra vez, o Tarso. A gente debatendo o futuro do Brasil diante da militância de todos os partidos juntos.

Zé Dirceu – Um fórum de debate?

Cristovam Buarque – Um fórum, mas com a idéia de que isso possa se transformar em prévia porque, se for só fórum, fica acadêmico. Você tem que passar o seu recado, querendo conquistar como eleitor. Se for fazer uma palestra como professor, eu mostro, recebo aplauso e não preciso seduzir ninguém. Mas se você for pensando que vai querer ganhar, o seu discurso tem que ser mais político. Se fizéssemos isso no início de 2009, poderíamos tentar juntar. Se vai juntar ou não, eu não tenho idéia. Aí o papel do Lula seria muito importante. O que ele vai querer fazer ou como vai conduzir? Eu tenho a impressão que ninguém sabe.

Não falta recurso financeiro,
mas a vontade de querer mudar
Zé Dirceu – Voltando à questão do piso, você defendeu a criação de uma lei de responsabilidade educacional.

Cristovam Buarque – Já foi aprovada na Comissão de Educação. Agora vai para a Comissão de Assuntos Econômicos. Ela não diz exatamente uma coisa importante, que eu já discuti com o [Fernando] Haddad, que é favorável. O Haddad pergunta “como é que se definem as metas?.” Eu tenho duas propostas para elas. Uma é com certa centralização, o Ministério da Educação define as metas para cada cidade, porque não pode ser uma meta só.
Você não pode propor erradicar o analfabetismo em quatro anos para qualquer cidade. A outra é democrática, todo candidato a prefeito é obrigado a dizer quais as suas metas. O eleitor escolhe quem tem metas audaciosas para a Educação e quem tem metas simples. O que botar meta audaciosa vai ter que cumprir, quem botar simples fica ali.

Zé Dirceu – A falta de recursos é o determinante ou é a incapacidade de gestão, de administração, de mobilização, de estabelecer políticas?

Cristovam Buarque – Eu acho que o recurso financeiro é o menor problema de todos. Existe um problema político de querer buscar... Não faltam recursos no país. Quando a Petrobras e o BNDES falam dos investimentos que vão fazer, verificamos que tem uma soma de dinheiro muito superior ao que precisaria.

Zé Dirceu – Por ano, os dois somam R$ 150 bilhões de investimentos.

Cristovam Buarque – Não falta recurso financeiro, mas a vontade de querer mudar. O que faltam são recursos reais. Se amanhã você colocar dinheiro demais na escola, na primeira chuva vira lama. Você não pode jogar dinheiro no terreno. Por exemplo, aumentar muito o salário de todos os professores não melhora a educação. Encher as escolas de computador, vão ser roubados na primeira semana.

Eu defendo um processo por cidades, formando 100 mil por ano, até chegar aos dois milhões e meio de hoje. Todos seriam substituídos por novos ou pelos que demonstrarem competência. Aí o salário médio, não o piso, iria para R$ 4 mil e o piso ficaria em torno de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil. Isso não custa muito no começo, vai aumentando, mas o país também vai crescendo e fica fácil. Isso traria um retorno muito rápido. Em cinco anos, você já veria o retorno disso, os meninos e meninas com uma formação. Quais os recursos que faltam? Professor preparado, escolas construídas e até crianças em condições de acompanhar essa educação.

Zé Dirceu – Sem falar que os parâmetros da educação fundamental têm que mudar no Brasil. Nós não entramos no século XXI.

Cristovam Buarque – Se eu fosse dar uma aula de Geografia, eu pegaria o computador, abriria aquele programa do Google (Earth) em que aparece o mapa, e mostrava a casa do menino. Olha aqui onde é que você mora. Agora, olha o seu redor aqui. Isso é geografia...

Zé Dirceu – Qual seria o critério para escolher essas cidades?

Cristovam Buarque – Em 2003, foram 29 cidades. Como fizemos? Nós sondamos quais prefeitos tinham uma boa gestão – e não só do PT, fizemos questão de misturar, e nem só de um Estado. Fomos lá, mandamos um cara e exigimos que só entrava se a cidade fizesse um pacto e se todos os vereadores assinassem que dariam continuidade aquilo. Conversamos com padres, prefeitos etc, o MEC liberou recursos, depois conseguimos pegar dinheiro de outros programas, mas em 2004 parou. Em 2005, o orçamento tinha dinheiro para 155 novas cidades. Eu defendo mil em 4 anos, mas vai aumentando, vai ficando mais fácil.

É um processo difícil e que exige a vontade do prefeito. Eles precisam dar uma parte, não pode ser só o governo federal. Qual prefeito vai dar mais? Qual a cidade tem um envolvimento com a Educação?
Aqui e ali vai dar errado, mas vai dar certo em outro canto. E na hora que começar a der certo nessas cidades, as outras virão. O erro do Brizola foi colocar CIEPS espalhados no Estado inteiro. Se ele tivesse escolhido 10 cidades do Rio e as revolucionado, inclusive fazendo teatro, biblioteca, colocado jogo de xadrez na praça, as outras viriam depois, ninguém parava. Mas aquelas escolas isoladas terminaram parando.

É difícil o critério de escolha, mas a gente vai praticando e encontrando. No Brasil, no fundo, tudo começa por algumas cidades.

Zé Dirceu – Você acredita que se pode universalizar o ensino médio em 3 a 5 anos, com a política atual, o plano da educação, com as escolas técnicas como fizemos com o fundamental?

Cristovam Buarque – O importante com a revolução na base do ensino fundamental é que quando houver a universalização, ela seja também com qualidade. O ensino médio hoje, temos que reconhecer, com as crianças que não fizeram um bom ensino fundamental, tem que ser um ensino médio diferenciado. Temos que levar em conta isso. Não podemos ter a mesma qualificação. Tem que ser mais profissionalizante. A tendência está sendo essa. Agora, quando o ensino fundamental der o salto, o ensino médio vai se espalhar com qualidade.
Todo mundo diz “o gargalo é o ensino médio”. É verdade. Mas o fundamental não está no gargalo, está embaixo. Toda criança aprender a ler antes dos 7 anos, todas. Toda criança ter já uma base de literatura, saber as operações bem feitas. É no ensino fundamental que a gente vai dar o salto no ensino médio e depois na universidade. Isso não quer dizer que temos que abandonar o ensino médio e a universidade. Não, mas fazer tudo isso. A revolução é embaixo.

Hoje, a revolução no social está na escola. Deixo com você esse livrinho “O que é o Educacionismo?” É o socialismo do século XXI. Aquela idéia que falei há pouco: não é tirar o capital do capitalista para o trabalhador, mas colocar o filho do trabalhador na mesma escola do filho do capitalista. Peguei Marx e fui analisando. Luta de classe não é mais capital e trabalho, mas ter ou não conhecimento. Emancipação não é mais ser dono do seu trabalho, mas ter o capital conhecimento. Eu fui olhando um por um, para tentar ver se atraio a juventude, mas não é fácil atrair a juventude para esse debate hoje.

Zé Dirceu – O que mudou na juventude que está tão afastada?

Cristovam Buarque – Nós, os mais velhos, deixamos morrer as bandeiras que tínhamos. Não soubemos reformular o que havia de tão bonito no socialismo. Não soubemos incorporar o meio ambiente, por exemplo, a ecologia. Em 1982, eu tinha acabado de chegar do exterior e fiz um artigo, que chamo de Fetichismo da Energia sobre a crise do petróleo, em que eu colocava o problema ambiental. O artigo foi devolvido por um companheiro nosso, da Revista Cebrap, com uma carta dizendo “esse assunto do meio-ambiente é uma invenção do imperialismo para impedir o crescimento do Terceiro Mundo”... Eu analisava que o problema energético não é apenas a falta de fonte, é também o excesso de consumo. Há um fetichismo aí.

Nós não soubemos reformar o pensamento de Marx. Eu começo o livro dizendo que, em 1883, quando Marx morreu, não havia luz elétrica nas casas, não tinha automóveis nas ruas, nem moto-serras nas florestas. Nós tínhamos que mudar o pensamento dele e não soubemos fazer isso, ficamos vagando. Aí veio a vitória do neoliberalismo, a sedução do consumo, que realmente é uma coisa fascinante, e ficamos perdidos. Nós, os líderes, não os jovens.

Zé Dirceu – Em artigo que escrevi, publicado no Jornal do Brasil, eu dizia que o ciclo do muro de Berlim acabou com a escolha do Obama, com as Olimpíadas e com a invasão da Ossétia pela Geórgia e a reação russa. Também abordei a questão da Ásia, que é um bloco como a União Européia ...

Cristovam Buarque – A nossa pergunta, das lideranças, é o que fazer para não perdemos os avanços dos últimos anos.

Zé Dirceu – A primeira coisa é eleger um sucessor.

Cristovam Buarque – Mas como eleger um sucessor capaz de avançar, enfrentando as forças contrárias, sem ter o charme do Lula?

Zé Dirceu – Isso depende de os partidos se unirem, terem mobilização social e o debate público.

Cristovam Buarque – O debate público.

Zé Dirceu – Primeiro, o Lula vai continuar presente na vida política do país e como uma grande liderança. Ao contrário do FHC que não tem as mesmas características do Lula, ainda que ele continue o seu papel, exercendo sua liderança, mas não tem a mesma qualidade porque o Lula pode mobilizar fora. Talvez, o que não fez agora possa fazer depois para ajudar quem estiver governando. O ideal seria que se fizesse uma reforma política e os partidos ganhassem mais densidade, corpo, filiação no Brasil.

Cristovam Buarque – Outra coisa que insisto é não fazer aventuras na economia. Tem ajustes, mudanças, mas não aventuras.

Zé Dirceu – A questão dos juros você acha uma aventura?

Cristovam Buarque – Eu acredito que juros é uma questão mais técnica do que política. Eu briguei com muita gente por isso. Não pode ser tão baixa que volte a inflação pelo aumento do consumo; e não pode ser tão alta que voltem a inflação e a recessão porque pressiona os custos. Eu fui conversar longamente com o Henrique Meirelles que me tranquilizou muito. Comecei a falar que, talvez, os juros fossem altos porque eles começam a pressionar os custos. Ele me disse que no Brasil não pressiona. A explicação dele é que no Brasil, o empresário não paga juros a preço de mercado, só paga juros do BNDES para a indústria e do Banco do Brasil para a agricultura.

O professor do futuro vai ensinar o aluno
a surfar nas ondas do conhecimento

Zé Dirceu – Você é favor do uso das tecnologias, como computadores por alunos, esse projetos como meio de revolucionar a Educação?

Cristovam Buarque – Sou, se treinar bem o professor. Eu tenho vontade de montar um projeto de Lei que diga “em dez anos fica proibido ter o quadro negro”. Quadro negro é o computador, não tem jeito. Aluno não gosta de ficar olhando para o professor e grande parte do ensino será a distância. Mas para isso, o professor tem que saber usar. O professor do futuro não vai ser mais artesanal como eu sou, vai ser uma mistura do que segue a disciplina, do que sabe pegar dessas idéias e desenhar bem em desenho gráfico e levar isso para todos os cantos, para o menino chegar em casa e ver na tela. Aí, eu sou a favor. O professor do futuro será o cara que vai ensinar o aluno a surfar nas ondas do conhecimento.
Antigamente, o conhecimento estava na cabeça do professor, que entrava na sala cheio de conhecimento. Hoje, não é mais. O conhecimento está espalhado na televisão, no computador, na internet.

Qual o papel do professor? Primeiro, ensinar o aluno a surfar e mostrar onde ele vai buscar a informação. Segundo, transformar informação em conhecimento.Terceiro, complementar com o lado estético e ético, que o computador não passa. O professor precisa dessas três coisas, sem o computador ele não faz. Agora, o computador sozinho também não faz. Gera uma geração de nerds – como eles chamam – cheios de informaçõezinhas sem informação, sem ética, sem gosto estético e só competitiva.

Zé Dirceu – As empresas hoje também estão se tornando centros de educação. Elas precisam aumentar a produtividade, novos métodos de gestão, melhorar as tecnologias.

Cristovam Buarque – As escolas estão no mundo inteiro. As Igrejas são um pouco escolas. As fábricas, os consultórios são um pouco escolas.

Zé Dirceu – Como fazer a formação dos professores? Há um descolamento enorme, muitos formados não saem preparados das universidades.

Cristovam Buarque – Temos que separar o Ministério do Ensino Superior do Ministério da Educação de Base, e este fazer convênios com a universidade. “Eu quero 100 mil professores que saibam usar computadores”. Está aqui o que eu quero. E aí, as universidades formam, com liberdade pedagógica, não tem que dar a linha exata, é bom que haja liberdade, mas dizendo o tipo de professor que se quer. Se deixar a universidade como está, não adianta. E o MEC é o ministério do Ensino Superior e da Escola Técnica, não é o Ministério da Educação de Base. Federalizar, criar a carreira nacional e um programa de horário integral, no nível federal. Agora, descentraliza a gerência. Aí, eu radicalizo. Ter uma escola pública que pertença aos pais e aos professores e que cumpram as metas federais.

Zé Dirceu – Na maioria dos países desenvolvidos, o governo federal só faz isso, metas pedagógicas e interesse cultural do país. Nós não temos tanto esse problema, mas alguns países têm mais de uma nacionalidade, mais de uma cultura e é preciso gerenciar isso. Agora, a gerência é totalmente municipal.

Cristovam Buarque – Essa é uma pergunta boa para o debate que estou propondo com os pré-candidatos, e também a linha de juros, a produção metalúrgica, se vai ou não ter energia nuclear. O Lula disse que vai voltar a energia nuclear. Eu pessoalmente acho que é a energia mais limpa que existe se formos capazes de resolver os problemas da engenharia civil para que não deixe vazar e onde colocar o lixo. É uma questão técnica, mandem os engenheiros estudarem isso. É a mais limpa que tem, não gera lago, nem fumaça. Agora, é assustadora.

O petróleo é um bem nacional

Zé Dirceu – Sobre o pré-sal, você participou das discussões, viu o presidente falar, como está vendo isso?

Cristovam Buarque – Nós temos que transformar um recurso esgotável em um recurso permanente... Fui recentemente à Doha, eles têm poços de petróleo cujo dinheiro vai todinho para montar centros de conhecimento. Eles estão investindo na energia do futuro. Quem disse que petróleo é energia? Petróleo é lama, energia é a engenharia de furar, puxar, transportar e refinar. Essa é a verdadeira energia, a cinzenta.

A gente tem que pegar essa energia que o Brasil tem e aproveitar em educação, ciência e tecnologia. A Irlanda era um país muito atrasado, não teve o pré-sal, mas a sorte dela foi entrar na Comunidade Européia. Quando isso aconteceu, eles reuniram todos os partidos – são poucos, apenas 3 – com os líderes empresariais e sindicais num castelo por duas semanas, e discutiram o que fazer a partir da entrada na comunidade. Eles decidiram gastar todo o dinheiro em educação, saúde e tecnologia, fosse qual fosse o governo, durante 30 anos.

Nós temos que transformar isso. Como? Primeiro, o petróleo é um bem nacional, nós podemos permitir que entidades privadas o explorem desde que paguem pelo petróleo e esse petróleo e os royalties têm que ir para um investimento permanente. Eu acho que investimento permanente é a educação. Lula já disse, e tem razão, em educação e na luta contra a pobreza.

Zé Dirceu – E nas grandes cidades.


Cristovam Buarque – Também nas grandes cidades. Ele está correto. É dinheiro suficiente para resolvermos esse problema em dez, 15 ou 20 anos. Um país ultra educado, para mesmo que se um dia acabe, mesmo o pré-sal, esse seja um país grande. A diferença entre nós e Doha é o tamanho. Eles não terão massa crítica para serem grandes produtores de centros de tecnologia. Nós temos condições de ser uma fonte importante de saber no mundo. Eu não vejo outro jeito. O petróleo foi queimado a serviço da Nação, é verdade, mas não dá para dizer que foi a serviço do povo. O povo é permanente, quando acabar o petróleo, vai ficar sem nada.

Zé Dirceu – O governo precisa ampliar esse debate que está tendo para os líderes da oposição, empresários e lideranças sindicais. Convidar a oposição para ir ao Conselho Econômico Social.

Cristovam Buarque – Aliás, lhe digo, há um projeto meu para usar os royalties do pré-sal para a educação, assinei junto com o Tarso Jereissati. É importante construirmos projetos que vão além do partido que está no governo.

Zé Dirceu – Essa questão do pré-sal, da Petrobras, da empresa estatal tem que ser resolvida de uma maneira bem adequada porque os desafios tecnológicos e a corrida contra o tempo. A tecnologia fica 5 bilhões cada conjunto daqueles. Os investimentos são fantásticos. E ele pode misturar. Nós vamos ter que aprender, lógico que a Petrobras tem capacidade para isso. Mas teremos que aprender muita coisa.

Cristovam Buarque – O aspecto além desse é a defesa disso, porque está já saindo do mar territorial brasileiro. Os americanos e ingleses podem vir e começar a perfurar ao lado das nossas. Nós temos que estar preparados para defender.

Zé Dirceu – Esse é outro problema, arrumar recursos para equipar, profissionalizar e mudar nossas Forças Armadas.

Cristovam Buarque – Precisa mudar e profissionalizar.

Zé Dirceu – Hoje, a rigor, nós não temos Forças Armadas.

DESIGULADAE SOCIAL NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

FONTE: JORNAL FOLHA VITÓRIA

25/09/2008 às 15h14
Desigualdade social

Assunto espinhoso, mas oportuno, diante do caos provocado pela escalada da violência nas grandes cidades, e cito como exemplo a Grande Vitória. Na hora do sufoco a sociedade só lembra de chamar a polícia. Assalto ! Polícia ! Polícia ! Pega ladrão! Liga pra polícia! A polícia representa o próprio Estado, materializado em ''carne e osso'', simplesmente ''o policial ''. Policial sim, além de filho, pai, amigo, marido, tio, irmão, enfim, Homem. Homem que o Estado utiliza pra proteger a sociedade. O Policial é o protetor dos Direitos Humanos. Agora a pergunta que não quer calar: QUEM VAI PROTEGER O POLICIAL? O Estado precisa construir mecanismos de proteção para policiais. Como pode policiais e traficantes entrarem em conflitos e viverem na mesma favela? A sociedade tem que valorizar e o Estado tem que investir no aparato de proteção que possui. O anjo vingador não descerá do céu pra nos livrar do caos da violência. A solução que vai nos tirar deste estado de sítio está nas mãos da sociedade civil organizada. O Estado cresce financeiramente (e não está preparado pra esse crescimento), crescendo junto as ambições das pessoas. E a violência é o principal sintoma da desigualdade social.


Enviado por Fernando Saraiva 1 comentário


09:23h - 28/09/2008
Fernando Claro

EStimado Fernando,

Tudo bem?

Muito oportuna sua indignação e sensibilidade mostrando em breves linhas uma radiografia de nossa repugnante e cruel realidade.

Nasci e vivi no Rj até meus 49 anos. Vi e sofri aquele drama na pele e é difícil dormir ao som do tiroteio e desviar-se dele!

Uma Cidade Linda e Maravilhosa tem um POVO - que ao contrário do rótulo e estigma de ser "enganador e esperto" – que pratica a Terapia do Riso, rindo de sua própria e imensurável DESGRAÇA.

Aqui no ES não poderão me acusar de omissão, "pois até ao Bispo reclamei faz tempo", chamando-lhe a atenção e tentando sensibilizá-lo a liderar um esforço e movimento acima dos interesses partidários e corporativos para não incorrermos no mesmo erro e desastre anunciado.

Caro Fernando, o vento que sopra lá sopra cá! e estamos vendo nas grandes metrópoles esta mesma violência que já tem migrado pro ES em razão do efeito desta conurbação daqui com crescimentos desordenados.

Que Deus nos livre das chacinas e do genocídio que ocorre no Rj, onde tenho 99,99% de minha família e amigos!

Saudações fraternas,
Fernando, “OCLARO.BLOGSPOT.COM.BR”

MPES INICIA SEMANA COM CAMPANHA ANTI CORRUPÇÃO

FONTE: JORNAL FOLHA VITÓRIA

29/09/2008 às 15h18 - Atualizado em 29/09/2008 às 15h24

Semana começa com campanha contra corrupção nas eleições municipais

Folha Vitória

No início da manhã desta segunda-feira (29) foi dada a largada para uma campanha contra a corrupção nas eleições municipais, que acontece no próximo domingo (5). Durante o ato “O que você tem a ver com a Corrupção”, foram distribuídos panfletos educativos em frete à sede do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), em Vitória.

Após a manifestação, diversas personalidades da cultura e do esporte capixaba, representantes do poder público e autoridades políticas estiveram juntos na solenidade de abertura no auditório do MPES.

Um dos objetivos da campanha é prevenir a ocorrência de novos casos de corrupção, focando principalmente na educação de crianças e adolescentes, além de estimular as denúncias populares e a punição a corruptos e corruptores.

No evento, foram realizadas diversas palestras sobre o tema, apresentações da Banda de Congo Mirim da Ilha e do grupo Arteiros de Teatro, que encenaram a peça “O que você tem a ver com a Corrupção”.

De acordo com o Ministério Público, que está promovendo a campanha, “O que você tem a ver com a corrupção?” é um chamamento à sociedade civil nas suas mais diversas esferas. Um movimento democrático e independente que tem em cada cidadão um potencial aliado contra a corrupção.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

"EU ME NEGO A ACEITAR QUE O PETRÓLEO NÃO SEJA NOSSO, QUE A PETROBRAS NÃO SEJA NOSSA" - ENTREVISTA COM ILDO SAUER, EX DIRETOR DA PETROBRÁS.

FONTE:www.brasildefato.com.br

“Eu me nego a aceitar que o petróleo não seja nosso, que a Petrobras não seja nossa”
por Michelle Amaral da Silva — Última modificação 26/09/2008 16:07

Ildo Sauer, ex-diretor da Petrobras alerta sobre a importância histórica da estatal e acredita ser um equívoco restringir que só o pré-sal é nosso

26/09/2008

Nilton Viana,

da Redação

A descoberta de novos campos de petróleo no Brasil tem suscitado amplo debate sobre os rumos que o país deva tomar para garantir que essa riqueza seja efetivamente do povo brasileiro. Várias propostas estão sendo colocadas, dentre elas a criação de uma nova estatal para gerenciar o pré-sal. Contrário à criação de outra empresa para administrar o pré-sal, o professor da Universidade de São Paulo Ildo Sauer, em entrevista ao Brasil de Fato resgata o papel histórico-social da Petrobras e acredita que se a ela tem contradições e problemas na sua gestão, é fácil sanar. Segundo ele, é um ato de vontade política. “A Petrobras tem uma corporação extremamente profissional e disciplinada. Se ela faz o que faz é porque alguém na sua organização de comando dirige e faz”. Como alternativa, Sauer defende a criação de um fundo constitucional, gerido com critérios definidos em constituição.


Brasil de Fato – Como ex-diretor da Petrobras, como o senhor tem acompanhado o debate em torno das questões energéticas do país, as recentes descobertas da empresa e como tem visto as principais alternativas que surgem para se lidar com o chamado pré-sal?

Ildo Sauer – Eu acho que sempre é preciso recuperar a história para compreender o que está se passando hoje. São necessárias duas considerações preliminares. Uma bastante geral sobre energia e outra sobre a sociedade. O ser humano tem uma longa história marcada por duas grandes revoluções, do ponto de vista da organização da sua produção material para satisfazer suas necessidades de sobrevivência. A primeira, na transição do homem neolítico, homem caçador-coletor, para o homem agrícola, há dez mil anos, quando, com a revolução agrícola, o homem percebe que é possível se organizar socialmente de outra maneira para direcionar em quais plantas, em quais animais, a cadeia energética estava sendo acumulada desde a fotossíntese. A segunda, a revolução industrial, no fim dos anos de 1700, altera completamente a forma de organizar a produção, de dividir o produto social.

Quais dimensões estas revoluções trouxeram consigo?

Já na primeira revolução, a agrícola, há quatro dimensões que na minha opinião estão presentes: a primeira, como o ser humano consegue apreender a natureza e a representá-la; a segunda, como ele se apropria de instrumentos, máquinas, equipamentos, processos tecnológicos que ajudam a aumentar a produtividade do trabalho humano para gerar valor; a terceira, a forma como se representa e se legitima esta organização da produção e a divisão do produto, tanto que se o produto é social a pergunta é: “Como é que se legitima a distribuição desse produto social, dessa riqueza gerada?”; e, a última dimensão, são as instituições políticas e os valores que são hegemônicos em cada época. Já a primeira fase da revolução industrial foi marcada pelo controle sobre o carvão, que passa a permitir uma intensificação profunda da produtividade do trabalho, aplicado socialmente e para gerar riqueza. Logo depois, teve uma alteração profunda, quando os meios de produção passam também a ser controlados individualmente e a forma de produzir também se altera. Com a revolução industrial calcada no carvão, e na mudança significativa da base terminal de produção, os meios de produção passam a ser propriedade de uma nova classe que surge, a classe capitalista. E grande parte da população passa a ser apenas detentora de sua força de trabalho.

E no século 19?

Este é marcado profundamente pela segunda fase da revolução industrial, em que o carvão progressivamente dá lugar ao petróleo, à indústria elétrica, à indústria automobilística, à indústria das telecomunicações. À uma indústria toda organizada em associação com os grandes bancos capaz de alterar completamente a face do planeta Terra, neste último século. Tanto em termos de população, que sai de um pouco mais de 1 bilhão para, na virada século do petróleo, se transformar em 6,7 bilhões de habitantes. Isso tudo: a mobilidade de carga e pessoas, de materiais, os grandes conglomerados industriais carterizados vinculados ao sistema financeiro, as duas grandes guerras; tudo isso marca a mudança da organização social da humanidade na face da Terra ao longo do último século, e em grande parte, o que permitiu que isso acontecesse foi o fato de que a força de trabalho humana agora passa a ser potencializada na sua capacidade de gerar riqueza porque uma nova forma de energia, apropriada agora em maior intensidade e com menos esforço, está disponível. Esta energia que é o petróleo.

Quando o Brasil percebe a importância do petróleo?

Aparentemente, a população brasileira percebeu esse grande movimento internacional de mudanças, a indústria automobilística, a base industrial, a mobilidade, a indústria aeronáutica. Aqui, aparecia todo esse conjunto de conglomerados tecnológicos capitalistas. E do outro lado, com a revolução socialista, algo parecido acontece também. Na União Soviética, quando se dizia que fazer socialismo era construir soviets e levar eletricidade. A população brasileira, implícita ou explicitamente, percebeu a importância de se ter o controle do petróleo para se formar uma sociedade com certo grau de autonomia e soberania no contexto do novo regime de produção internacional. E aí, lança-se a campanha “O Petróleo é Nosso”, na década de 1940, dentro da visão keynesiana, de que o capitalismo autoregulado fracassou, como ficou claro com o crash da Bolsa, que desorganizou a economia internacional na década de 1930; e que agora a mão invisível do mercado dialoga com o Estado para buscar saídas que permitam ao Estado proporcionar as condições estruturais necessárias para que as relações capitalistas de produção pudessem ter sucesso em muitas regiões do mundo. O plano mágico começou nos Estados Unidos, com o new deal, para depois marchar para a Europa depois da Segunda Guerra. E nos países como o Brasil, não foi diferente.

E a partir de então o petróleo passa a ser fundamental na modernização e no desenvolvimento brasileiro.

O desenvolvimento industrial dos recursos energéticos e de outros recursos naturais no Brasil se deu com a criação do BNDE, da CSN e do sistema Eletrobras. A CSN deu base para seguir o grande plano rodoviário na década de 1950 que rasgou o Brasil com o “50 anos em 5” do Juscelino. Deu-se com a indústria automobilística que chega finalmente ao Brasil 50 anos depois de se lançar ao mundo. Nesse contexto, o papel do petróleo passa a ser importante para possibilitar a modernização produtiva no Brasil.

E a Petrobras?

A Petrobras surge nesse contexto com uma necessidade prevista pelo povo brasileiro de controlar um recurso fundamental nesse processo que permitisse, com todos essas contradições, que o capitalismo brasileiro se desenvolvesse minimamente na área industrial; deixar de ser um país agrícola e torna-se um país urbanizado, com todas as mazelas e contradições que nós já conhecemos. Então, a Petrobras tem a delegação de uma missão muito particular e dada pelas ruas: garantir o abastecimento do petróleo em todos os cantos do Brasil. Porque isso é a marca fundamental, inclusive para o próprio processo da modernização agrícola, com a presença dos tratores. A mecanização agrícola só foi possível porque os derivados de petróleo chegaram a todos e quaisquer campos do Brasil. Isso foi a sua grande missão. Mas havia uma grande surpresa no horizonte. Porque havia o debate sobre a existência de petróleo no Brasil ou não. Havia isso nas primeiras décadas da Petrobras, mas não foi tão relevante. Relevante foi construir a logística, as refinarias, o acesso ao petróleo que mudou. Permitu a mudança significativa na produtividade e nas condições de vida de todos os brasileiros, especialmente o emergente capitalismo brasileiro se beneficiou profundamente disso.

Mas a Petrobras também teve a missão de desenvolver o álcool combustível.

Muito bem. Anos de 1970, dois choques do petróleo, 1973 e 1979. O preço do petróleo dispara e as condições macroeconômicas brasileiras, recém-saídas do milagre brasileiro da ditadura, entra em crise profunda porque não havia como pagar as contas das várias importações, especialmente a do petróleo. Se esgota a primeira fase da Petrobras e lhe dão uma segunda missão, junto com os planos de desenvolvimento do governo Geisel, especialmente, que cria o Programa Nacional do Álcool, o Prograna Nacional de Óleos Vegetais, que hoje se chama de biodiesel, mas que naquele tempo já havia sido concebido. Avançou o Proálcool porque nele havia, primeiro, condições específicas infraestruturais positivas, a base industrial da agroindústria do açúcar que estava em crise e o interesse dos conglomerados agrícolas e financiadores ligados ao governo – Instituto do Açúcar e do Álcool – que permitiram que o Proácool deslanchasse. O programa de siderurgia teve algum avanço também nesse contexto, o Pronuclear nos deixou como herança, imensas dívidas e duas usinas.

E a missão de se encontrar petróleo?

De todas essas iniciativas, essa não foi explicitada abertamente. Ela se lançou ao exterior, encontrou no Iraque [em 1976] o maior campo petrolífero já conhecido naquele país, batizado de Majnoon, que quer dizer maluco, louco, de tão grande que era. A Petrobras foi indenizada em cerca de 200 milhões de dólares e o campo foi nacionalizado, estando lá até hoje. Buscou em outras partes, mas acima de tudo havia a Braspetro, que fazia trocas comerciais para poder pagar a conta-petróleo. É bem verdade que o Iraque, tendo tomado o campo, se comprometeu e isso está até hoje, as relações são muito cordiais com os dirigentes das empresas petrolíferas iraquianas que reconhecem a contribuição da Petrobras. E, durante a crise do petróleo nos anos de 1970-1980, de uma certa maneira, foram promovidas trocas comerciais que permitiam que o Brasil pagasse a conta-petróleo do Iraque com carros, alimento, frango, soja, carne, frango e especialmente com Passats.

E em relação ao Brasil, o que fez a Petrobras?

Não encontrando petróleo em terra, a Petrobras se lança ao mar. A poucos metros da lâmina d'água e depois vai aprofundando, aprofundando, até ser reconhecida hoje como aquela que é a campeã mundial na tecnologia de águas profundas – capacidade de gerar o risco tecnológico, risco financeiro e todo um conjunto de riscos associados a esse processo. Hoje, ela se lança ao mar a lâminas d'água de cerca de 2,3 mil metros e daí para baixo da superfície marítima até 7, 10 quilômetros de perfurações contínuas, produzindo num navio colocado, que para perfuração e exploração tem que estar estabilizado porque esta aste de perfuração precisa ser controlada adequadamente. Então, a capacidade de gestão – e não é que a Petrobras defina sozinha essas ações todas ela é uma controladora, integradora, gerenciadora – é uma atividade muito complexa, que lança mão de todos os serviços tecnológicos, da geofísica, da perfuração, da ação concreta lá debaixo do mar.

O governo FHC quis privatizar a Petrobras. Chegou inclusive a trocar o seu nome.

É verdade. No governo anterior lhe tomaram o nome por alguns dias, um golpe chamado de Petrobrax, mas o povo foi às ruas e o governo recuou, lhe devolveram o nome, mas lhe venderam 30% das ações na Bolsa de Nova York, por 5 bilhões de dólares em agosto de 2000. 30% que chegaram a ter [em 2008] um valor nominal de 130 bilhões de dólares quando a Petrobras chegou a 400 bilhões de dólares. Considerando o valor atual do petróleo retrocedendo em níveis próximos dos 100 dólares esse valor é diferente, talvez, no momento, a Petrobras esteja valendo uns 200 e poucos bilhões de dólares na Bolsa, então mesmo assim os 30% continuam sendo a fantástica quantia de quase 70, 80 bilhões de dólares. Mas é preciso compreender como são as operações na área do petróleo, tanto as tecnológicas quanto as financeiras. Eu acho então que – com essa preliminar feita do papel histórico-social da Petrobras, com suas contradições, sua capacitação industrial – a descoberta do pré-sal é produto dessa longa trajetória da Petrobras.

Quantos anos de pesquisa a Petrobras levou para chegar a essa descoberta?

Desde o final dos anos 1970, mas a ênfase foi mesmo há uns 5, 6 anos, quando a Petrobras resolve alterar o caráter de gestão da empresa, que vinha numa direção desde as reformas liberais dos anos de 1990, iniciadas por Collor e comandadas por Fernando Henrique. A estratégia da Petrobras baseia-se em um tripé de bastante sucesso: reforçar e aprofundar a busca de petróleo; desenvolver na medida do possível todo gás disponível como substituto do petróleo, gerador de valor e menos intensivo em emissão de gás carbônico para evitar o efeito estufa – cada 150 metros cúbicos de gás permitem substituir um barril de petróleo –; e já lançar o caminho para a retomada do álcool que foi imposto a Petrobras nos anos de 1970.

Qual o futuro do petróleo dentro da matriz energética mundial? O cenário é mesmo de escassez?

A previsão que se tem é que no mundo havia cerca de 3 trilhões de barris de petróleo, recuperáveis com a tecnologia de hoje. Um trilhão foi usado no século passado, que foi o século do petróleo, que permitiu que a humanidade fizesse essa longa e estasiante trajetória de chegar a 6,7 bilhões de habitantes, baseada em grande parte na exploração do petróleo, geração de valor, alocando trabalho, mão-de-obra, conhecimento em cima do petróleo. Hoje, se acredita, então, que tenha 2 trilhão de barris recuperáveis. Assim, tirando-se 80, 90 milhões de barris por mês, isso significa que nas próximas três ou quatro décadas, o petróleo convencional estará exaurido e o gás natural que tem 2 trilhões também terá ido. Então ficou assim, apesar da discussão em torno das mudanças climáticas, a Petrobras se lançou a descobrir mais e mais reservas e um dos esforços foi exatamente a busca daqueles recursos do pré-sal.

A reativação da Quarta Frota pelos EUA entra neste contexto?

Não é à toa que ela tenha sido reativada em grande parte para vigiar o Atlântico Sul, onde estaria o travesso Chávez ocupando espaço. Mas também é uma coincidência que grande parte dos recursos do pré-sal estejam exatamente em cima e dentro na fronteira daquela zona econômica exclusiva, dentro daquelas 200 milhas decretadas nos anos de 1970, que alguns países, especialmente os EUA ainda não reconheceram.

A Petrobras está credenciada a administrar os recursos do pré-sal?

A Petrobras é no mundo a empresa mais credenciada. Sua força de trabalho aumentou em torno de 20 mil pessoas nos últimos 5 anos. Passou de 48 para 68 mil diretamente contratadas, treinadas nos mais diversos afazeres da área de energia, para atuar de igual para igual com outras companhias e nesse contexto regulatório que está colocado aí dentro e fora do Brasil. Essa é uma trajetória de enorme sucesso, com todas as suas contradições, nas quais a Petrobras se insere em razão de sua própria história já que todos os governos tentaram instrumentalizá-la para seus propósitos, muitas vezes legítmos outras vezes nem tão publicáveis, nem tão transparentes assim em várias etapas, de usá-la para aplacar a sede das bases partidárias no Congresso e daí por diante. A Petrobras não ficou imune a isso, especialmente nos últimos dois anos também essa situação se agravou, me parece. [Apesar disso,] a Petrobras é reconhecida hoje como a estrela mundial na área de petróleo por sua trajetória.

Pelo o que entendi, o senhor é contra a criação de uma nova estatal para administrar o pré-sal?

Eu não sei o que ela faria. O que eu estou tentando descrever com essa trajetória e essa complexa relação que está colocada é que, se em 50, 60 anos de história a Petrobras logrou chegar ao patamar que se encontra de operação tecnológica, industrial, econômica, empresarial, não é uma coisa muito fácil de se reproduzir em pouco tempo. Então, há dois fatores que me parecem fundamentais nessa história do pré-sal. Primeiro, que ainda não se sabe exatamente estimar se é um arquipélogo de manhcas de óleo ou se é uma espécie de subcontimente que vai de Santa Catarina até o Espírito Santo de óleo. Não se furou o suficiente. Há que se fazer mais perfuração, há que gastar mais tempo e dinheiro para avaliar melhor o volume e ter uma noção clara do que está lá. O que eu estou tentando demonstrar é que não se pode menosprezar a importância de ter uma empresa daquele porte, com essa capacidade, e também não se pode superestimar o potencial de qualquer organização para ocupar um espaço rapidamente com essa complexidade. Eu acho que se a Petrobras tem contradição e problemas na sua gestão, é fácil sanar, é um ato de vontade política.

E como o senhor acha que essas contradições poderiam ser sanadas?

Eu vou falar claramente. Grande parte do que nós estamos vendo em relação à Petrobras por parte do governo é um deficiente relacionamento entre o governo federal e a Petrobras. Há uma relação meio esquisofrênica do governo com ela, na medida que o próprio presidente da República faz piegas dizendo que “então tá bom, ela é tão poderosa, é uma ameaça à democracia”. Vir falar disparates desse tipo. Eu dei uma entrevista bastante dura à Folha de S.Paulo porque no dia anterior saiu uma matéria dizendo que o governo pensava criar uma nova empresa porque a Petrobras está se tornando muito poderosa e seria uma ameaça à democracia como foi a PDVSA logo no começo do governo Chávez. Ora, isso não tem nenhum fundamento. A Petrobras tem uma corporação extremamente profissional e disciplinada. Se ela faz o que faz é porque alguém na sua organização de comando dirige e faz.

Como se dá efetivamente a relação entre o governo e a empresa?

Há um mecanismo que engloba as normas, o estatuto da empresa e, acima de tudo, o conselho de administração, que é aquele que elege os dirigentes da empresa e que lhe dá diretrizes. O que eu tenho assistido – e que é um depoimento pessoal bastante forte – é que lamentavelmente o governo Lula, através do seu vínculo com a Petrobras, não esteve à altura do desafio que a Petrobras vem enfrentando e das oportunidades e possibilidades que estavam colocadas. Nunca, em nenhum momento sequer o conselho de administração, especialmente através de sua presidência, tem sido um caminho, um canal de comunicação que expressasse verdadeiramente nos dois sentidos aquilo que poderia ser um relacionamento muito profíquo. O que a gente percebia lá é um conflito permanente, no geral, sobre questões que não existiam, que eram inventadas e fabricadas. Então, esse relacionamento complicado que se criou entre a percepção que o governo tem em Brasília da Petrobras é um enorme equívoco histórico. Quem tem a responsabilidade por isso, acima de tudo, é a presidência do conselho de administração da Petrobras [do qual Dilma Rousseff é presidente desde janeiro de 2003], que não foi capaz de conduzir esse relacionamento num nível desejável.

E como resolver a questão acionária e de controle da Petrobras?

Essa questão do controle acionário pode ser modificada, mas ela não é tão relevante. Basta organizar a forma de gerir o acesso ao recurso natural e a partilha do valor produzido com seu desenvolvimento. Em 2003, dizíamos então que, dado que era difícil a roda andar para trás, o gênio voltar para a garrafa, é preciso converter o limão numa limonada. Ou seja, alterar o regime de concessão. Essa era a proposta. Acabar com as concessões como estavam sendo dadas. Lamentavelmente, neste governo, a roda, a máquina como aquela do Charles Chaplin do filme, continua rodando igualmente. Isso é uma coisa que nós viemos debatendo muito. Porque, se você tem um regime que concede blocos, que dá três anos para encontrar, e tendo sucesso, dá mais 20 anos para desenvolver, o Brasil rapidamente estava na engrenagem de ser um exportador de petróleo. O que a diretoria da Petrobras fez foi comprar todos os blocos que estavam à venda e que tinham prospectividade. Isso foi feito. Só que a política mesmo era comandada de Brasília, do Ministério de Minas e Energia, da Casa Civil, que fez essa roda andar no automático, que levou ao pré-sal. E o que o governo fez? Não mudou o regime regulatório, não alterou sequer o decreto, que era uma canetada simples e ainda manteve a 9ª rodada, até que a Petrobras anunciou publicamente a viabilidade e o sucesso do Tupi. Então, criou-se uma situação na qual os bilhetes que estavam à venda já eram bilhetes premiados sabidamente. Onde é que está a assessoria do governo Lula na área de energia? Não está na Petrobras, não está nas universidades, está lá no próprio Planalto. Então, esse elo fraco que nos levou a essa situação, que felizmente, o presidente da República resolveu arbitrar o problema adequadamente, ainda que com lentidão de seis meses de atraso, retirou os blocos. Só que muito pouco foi feito de lá para cá.

O senhor disse que o governo não tem estado à altura da Petrobras. Como a diretoria da Petrobras tem si posicionado frente deficiência do governo?

A diretoria da Petrobras, por iniciativa dela – eu sugeri ao diretor financeiro, a quem cabe essa medida –, levou à diretoria, a diretoria aprovou e o conselho referendou a recompra de ações com lucros. Cerca de 5 bilhões de dólares dos lucros seriam aplicados na recompra de ações dos outros sócios. Mas o mais importante foi que em maio, nessa mesma época quando se previa uma alteração significativa no quadro dadas às informações, eu pessoalmente, Ildo Sauer, pessoa física, tive uma conversa com o ministro Guido Mantega, da Fazenda, e lhe sugeriu: “Guido, o senhor está agora com 130 bilhões de dólares no exterior, recebendo juros de 1, 2, 3, 4 % ao ano e aqui dentro para ter essas reservas você está com uma dívida que paga 7 a 10%, portanto, uma arbitragem negativa. Por que que você não pega 30 bilhões de dólares – a Petrobras valia 90 bilhões de dólares naquele tempo – vai a Nova York e recompra as ABRs [ações] através de um fundo, compras as ABRs lá, você importa a Petrobras, deixa as ações lá, os dólares lá, enfim, e você vai ter uma rentabilidade da ordem de 20, 30, 40% ao ano sobre esse valor investido, e além do mais o câmbio ia estar reequilibrado no Brasil e ajudaria nas condições macro do câmbio, que cria dificuldades enormes para as exportações de bens industrializados e mesmo de bens agrícolas. O governo começou a discutir o câmbio soberano, e estamos discutindo, discutindo e a ação concreta nada. Até agora, só debate.

Esse cenário de valorização, ou supervalorização do petróleo pode, tomadas as decisões corretas, ajudar o Brasil a corrigir suas mazelas sociais?

A minha proposta é simples: um fundo constitucional, gerido com critérios definidos em constituição, qual a alocação de recursos dentro e fora do Brasil, limites máximos e mínimos, critérios e transparência na gestão e não ser uma empresinha, uma agenciazinha, ou uma empresa ou uma agência que obedeça aos ditames do governo diturno, muitas vezes pautados nas crises que tem que apaziguar a sanha das bases de apoios nos parlamentos. Então, eu acho que há experiências internacionais importantes, há experiências na África. Tem coisas positivas e coisas negativas. Tem experiências positivas na Noruega, só que a Noruega é um país diferente. E lá se tem uma empresa que é gerida por um pouco mais de uma dezena de pessoas, mas é muito mais o investimento financeiro que eles controlam. Não é uma empresa com base industrial. Então o modelo pode ser aperfeiçoado, há muitas sugestões na mesa, uma delas é mudar a forma de conceder para quem devolva mais, na proporção da produtividade. Isso mantêm as empresas solventes, capazes de gerir seus riscos, como é o caso da Petrobras e vai gerar recursos também para capitalização da Petrobras.

Quanto tempo se levará para que realmente se comece a extrair a produção no pré-sal?

Para desenvolver isso, 4, 5, 6 anos. Agora, não é para qualquer empresa fazer isso. Se há problemas com a Petrobras, como se tem dito por aí, que ela é muito poderosa, ao ponto de o presidente da República dizer que agora, em tom de brincadeira, iria promover a primeira eleição de presidente da Petrobras e ele indicaria o presidente da República, é falta de compreensão do papel histórico da Petrobras. O petróleo é nosso, a Petrobras é nossa e o pré-sal é nosso. Eu me nego a aceitar que o petróleo não seja nosso, que a Petrobras não seja nossa. Ou seja, restringir que só o pré-sal é nosso.

Voltando sobre aquela questão que você colocou sobre a decisão da diretoria sobre a recompra das ações... Isso não foi encaminhado?

Não sei se foram compradas ou não porque ninguém vai anunciar publicamente. Porque se você diz que está botando 5 bilhões para comprar, as ações explodem. Eu não sei se foi executado ou não. Porque a estratégia de execução não é assim. Porque se é sabido que os acionistas remanescentes querem comprar os que vão vender vão querer um prêmio para sair. Eu não sei quanto foi executado, mas foi aprovado. Mas simultaneamente, isso era só 5 bilhões, isso era mais simbólico, o que a diretoria podia fazer era isso, porque ela não pode tirar muito lucro. O que o governo podia ter feito e não fez, e que eu disse ao Guido Mantega foi: “Pega 30 bilhões da reserva e compra”. E ele não fez. Então, quero dar essa dimensão porque eu vi um discurso de que alguém do governo tinha mandado a Petrobras fazer e não fez. É errado. Veja, eu tenho me preocupado muito com a discussão que sai de Brasília sobre a Petrobras, essas coisas que circulam na imprensa, tentando demonizá-la, transformá-la na vilã da história. O que aconteceu nos últimos anos é o contrário. Quem tem instrumentalizado as instituições para atender certos clientes, em geral, clientes de alto poder aquisitivo, os mais privilegiados, tem sido facções do nosso governo. Isso precisa ser revisto. E o discurso sempre é esse, de tentar demonizar, desmoralizar. Dizer que vendeu gás duas vezes, que a Petrobras só pensa no lucro. Um monte de coisas que são ditas que constróem um ambiente de opinião pública para que depois se possa agir na direção contrária do que se diz que vai fazer.

O senhor, como ex-diretor da Petrobras, a defende e tem muito claro qual deve ser o papel dela neste momento.

Eu sou o único diretor fora da Petrobras deste governo. Estar fora da Petroras, portanto, é ter a obrigação de dar o testemunho do que aconteceu lá dentro. Porque os demais incumbentes, por mais que tenham consciência disso, não tem voz pública, porque se tiveram voz pública a sua garganta vai ser cortada.

PETRÓLEO:TRANSNACIONAIS NÃO QUEREM MUDANÇA QUE PREJUDIQUE SEUS "NOBRES e ELEVADOS" INTERESSES PATRIÓTICOS e PELA SOBERANIA DO BRASIL...

FONTE: www.abcpolitiko.com.br

Múltis atacam mudança no petróleo 15.08.2008

Multinacionais do setor do petróleo e a Agência Internacional de Energia criticam projetos de mudança na Lei do Petróleo brasileira e dizem que o País precisará de investimentos externos para conseguir retirar os recursos no subsolo marinho. Para entidades e executivos das maiores empresas do mundo, nacionalismos de forma geral não ajudam a atual situação no mercado do petróleo. O Brasil, para as multinacionais e a entidade que defende os interesses dos países
ricos, pode estar antecipando mudanças nas leis que acabariam prejudicando a rentabilidade das novas descobertas. Nos últimos anos, dados da ONU mostram que o poder das multinacionais dos países ricos no acesso a novas reservas é cada vez menor. As tradicionais gigantes do setor agora precisam competir não apenas com estatais dos países onde o petróleo está, mas também com novas leis de exploração. Em seu último relatório, a AIE destacou que o Brasil terá o segundo maior crescimento de produção de petróleo
até 2013, entre os países que não estão na Opep. A AIE não esconde que Tupi é uma das esperanças para que o mundo saia da crise do petróleo. Para a agência, o Brasil deve ter aumento
de produção de 800 mil barris até 2013,superado apenas pelo Canadá. Mas faz um duro alerta. Sem um quadro legal definido, os investimentos podem sofrer atrasos e as descobertas podem levar mais tempo que o previsto para dar resultados. A AIE reforça a voz das empresas de que seria cedo para o governo impor novas leis.A agência deixa claro ainda que não há como contar com uma produção plena das novas reservas,diante da falta de um marco legal e das discussões no governo para a modificação dasleis. Para a entidade, parte da crise no setor do petróleo e a alta nos preços poderiam ser solucionadas com maior acesso às reservas.

Já a posição das empresas é clara: a manutenção do status quo no Brasil. As companhias admitem que ficaram aliviadas ao saber que os atuais contratos serão mantidos, ao contrário do que ocorreu em outros países sul-americanos. Mas executivos deixaram claro que suas empresas vão pressionar o governo para evitar leis que as prejudiquem. Tanto a Exxon como a Total acham que o governo pode estar se antecipando de forma “arriscada” ao mudar as leis, sem saber qual o preço do petróleo em 2013, de onde vai tirar recursos para os investimentos e como financiar os gastos até lá. Algumas estimativas indicam que o Brasil precisaria investir US$ 600 bilhões para extrair todo o potencial das novas reservas. “Quem pagará por tudo isso?”, alerta uma fonte na AIE.

O presidente Lula voltou à carga na defesa do aproveitamento dos recursos do petróleo do pré-sal em investimentos sociais. Chegou a citar a Noruega como exemplo de sucesso de distribuição de renda. “Deus não nos deu isso (o présal) para que a gente continuasse fazendo a burrice. Deus (nos) deu mais uma chance”, disse Lula, dois dias depois do discurso no Rio, no qual convocou estudantes a encampar a nova versão da campanha “O petróleo é nosso”. Lula enfatizou a questão da aplicação dos lucros com a atividade de extração de petróleo. “Esse lucro vai ficar com uma empresa ou dez empresas? Ou parte deste lucro vai ficar para fazer as reparações históricas deste País?”, indagou. Em seguida, citou a Noruega como um país que tem experiência no assunto. Nos bastidores do governo, os rumores são de que esse modelo servirá de base para a
proposta de mudanças no Brasil: “Não tenho inveja da Noruega porque lá tem petróleo ou tecnologia. Tenho inveja porque a renda per capita lá é de US$ 76 mil (por ano). Quem sabe, com mais o pré-sal, a gente possa fazer com que a renda per capita suba e faça o povo brasileiro mais feliz”.

A proposta do governo de criar uma estatal para gerir os contratos de exploração de petróleo na camada do pré-sal não será fácil de ser aprovada pelo Congresso. Parlamentares da base cama-Ultra compra postos da Texaco por R$ 1,16 bi A onda de consolidação no mercado brasileiro de distribuição de combustíveis ganhou mais um capítulo, com a aquisição da rede de postos Texaco pelo Grupo Ultra. A compra dos cerca de 2 mil postos da rede, um negócio de R$ 1,161
bilhão, coloca o Ultra na segunda posição entre as maiores empresas em distribuição de combustíveis no País. Com a nova composição, o Ultra terá 23% do mercado, atrás apenas da Petrobrás e passará a atuar em todo o País (com exceção de Roraima). Hoje, a participação de mercado do Ultra é de 14%. da do pré-sal serão da nova empresa, e “a União é que ficará com os royalties e as participações especiais”.

Na avaliação do presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara, Luiz Fernando Faria, a Petrobrás tem know how suficiente para cuidar dos contratos de exploração de petróleo na camada pré-sal. “Não vejo motivos para se criar outra empresa”. Já José Carlos Aleluia considerou a idéia uma “loucura sem precedentes”. A base
aliada e de oposição estão reticentes em relação à proposta. Parte dos deputados e senadores teme que a empresa acabe se transformando em um “cabide de empregos” para acomodar aliados
políticos. Francisco Dornelles, que é da base do governo, disse que a criação da estatal “é um assalto aos acionistas minoritários da Petrobrás e aos Estados e municípios”. Para Dornelles, os
acionistas investiram quando a exploração de petróleo era atividade de alto risco e, dessa forma, ajudaram a Petrobrás a desenvolver tecnologia para a exploração em águas ultraprofundas. “Agora que vai colher os resultados de seus esforços, o governo propõe a criação de outra empresa, que ficará com tudo”, afirmou. “No fundo, eles querem é impedir que os acionistas minoritários participem dos benefícios das descobertas”. Os Estados e municípios também serão prejudicados, segundo Dornelles, porque todas as reservas de petróleo na cama-Ultra compra postos da Texaco por R$ 1,16 bi
A onda de consolidação no mercado brasileiro de distribuição de combustíveis ganhou mais um capítulo, com a aquisição da rede de postos Texaco pelo Grupo Ultra. A compra dos cerca de 2 mil postos da rede, um negócio de R$ 1,161 bilhão, coloca o Ultra na segunda posição entre as maiores empresas em distribuição de combustíveis
no País. Com a nova composição, o Ultra terá 23% do mercado, atrás apenas da Petrobrás e passará a atuar em todo o País (com exceção de Roraima). Hoje, a participação de mercado do Ultra é de 14%.
da do pré-sal serão da nova empresa, e “a União é que ficará com os royalties e as participações especiais”.

Na avaliação do presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara, Luiz Fernando Faria, a Petrobrás tem know how suficiente para cuidar dos contratos de exploração de petróleo na camada pré-sal. “Não vejo motivos para se criar outra empresa”. Já José Carlos Aleluia considerou a idéia uma “loucura sem precedentes”.

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