Reportagens Especiais
17/11/2010 - 07h00
Suplentes: em quem você votou e nem sabia
Saiba quem são os 108 suplentes que foram eleitos junto com os senadores. Eles são três vezes mais ricos que os titulares, a maioria não tem a menor experiência política, e muitos são parentes ou líderes religiosos
| Suplentes: você vota em 81 senadores e leva junto 162 pessoas das quais provavelmente nunca ouviu falar |
Eles são três vezes mais ricos que os senadores. A maioria nunca se elegeu para um cargo público. Alguns deram dinheiro para a campanha dos colegas. Mesmo sem ter recebido um único voto, eles garantiram o visto de entrada para o Senado com validade de oito anos. E podem usufruir de todas as benesses do Senado quando forem convocados para substituir os titulares. São os 108 suplentes elevados à condição de potenciais senadores pelo eleitor no último dia 3 de outubro.
Para compor suas chapas, os senadores eleitos foram atrás de donos de grandes patrimônios, de empresários bem-sucedidos, de representantes de entidades de classe, de auxiliares em funções públicas que exerceram anteriormente, de ex-parlamentares, de dirigentes partidários e de lideranças religiosas. Cinco deles nem foram tão longe. Buscaram os suplentes na própria família: Edison Lobão (PMDB-MA), Gilvam Borges (PMDB-AP), Eduardo Braga (PMDB-AM), Ivo Cassol (PP-RO) e Marcelo Miranda (PMDB-TO) reservaram uma vaga para parentes.
Quem são os 108 novos suplentes de senador
O cientista político Leonardo Barreto explica que quatro fatores determinam a escolha dos reservas dos senadores: o poder financeiro do suplente, o arranjo dentro das alianças partidárias, a capacidade de quem está na suplência de atrair votos e os laços de família.
“Normalmente os suplentes são pessoas que têm poder econômico, contribuíram para a campanha do titular, não têm representatividade, nunca se candidataram a nada e que enxergam nessa eleição a possibilidade de chegar ao mandato público sem voto”, critica o professor da Universidade de Brasília (UnB).
Os critérios apontados pelo cientista político se refletem no perfil dos 108 suplentes, feito pelo Congresso em Foco. Os novos suplentes chegam ao Sendo com mais poder econômico do que político: um terço deles jamais ocupou qualquer cargo público, nem mesmo de confiança, e 56 nunca foram eleitos, nem mesmo vereadores.
Muitos ricos e poucos famosos
A pouca experiência na vida pública contrasta com as declarações de bens dos suplentes. A média de patrimônio deles é de R$ 17 milhões, o triplo da registrada pelos senadores eleitos, que é de R$ 5,5 milhões. Somente 18 (um terço) dos 54 senadores declararam à Justiça eleitoral patrimônio superior ao de seus suplentes.
Metade dos primeiros-suplentes informaram ter mais de R$ 1 milhão. Entre eles, estão os candidatos mais ricos da eleição ao Senado: o primeiro-suplente de Ciro Nogueira (PP-PI), o empresário João Claudino (PRTB-PI), dono de um patrimônio de R$ 623,5 milhões, e o segundo-suplente de Eduardo Braga (PMDB-AM), o também empresário Lirio Parisotto (PMDB-AM), dono de uma fortuna de R$ 616 milhões. Entre os senadores eleitos, o de maior patrimônio declarado é Blairo Maggi (PR-MT): R$ 152,4 milhões.
Neste ano, 19 suplentes deram R$ 3 milhões para a campanha de 16 senadores por meio de contribuições que variaram de R$ 500 a R$ 870 mil, conforme mostrou o Congresso em Foco. A maior colaboração partiu do ex-senador Raimundo Lira (PMDB-PB), que ocupará a primeira-suplência do hoje deputado Vital do Rego Filho (PMDB-PB). Vitalzinho, como é conhecido, diz que a contribuição foi um gesto espontâneo e não teve influência na indicação do suplente. O valor doado por Raimundo cobriu quase um terço dos gastos declarados pelo candidato a senador.
A dobradinha peemedebista entre Vitalzinho e Raimundo faz parte de uma minoria. Dos 54 senadores, só 26 têm como primeiro-suplente um colega de partido. A maioria cedeu a vaga a aliados de outras legendas, reproduzindo inclusive alianças pouco convencionais, como a que ocorreu, por exemplo, no Amazonas, onde a deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) foi eleita senadora tendo como suplente imediato o ex-deputado Francisco Garcia, do PP..."
Capital político e religioso
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