sábado, 29 de novembro de 2008

"NÃO PODEMOS ESQUECER QUE O COMPROMISSO MAIOR DO MÉDICO É COM A CURA", por Dra. Ana Rita Novaes

FONTE: WWW.SECULODIARIO.COM.BR

'Não podemos esquecer que o compromisso maior do médico é com a cura'
Por uma medicina integrada e com foco no paciente

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José Rabelo

("Há um instante em que a mudança ocorre. Por que não fazer com que esse instante seja agora?". Anthony Robbins)

O Seminário e Fórum Estadual de Ensino das Práticas Integrativas e Complementares que reuniu em Vitória, no dias 19 e 20 de novembro, os principais especialistas das áreas de fitoterapia, homeopatia e acupuntura, além de profissionais da medicina convencional, confirmou que o momento é de oportunidade para o fortalecimento e crescimento das chamadas Práticas Integrativas e Complementares (PIC) no Espírito Santo.

A organizadora do evento e coordenadora das PIC no Estado, a médica homeopata Ana Rita Novaes, destacou que o fórum, além de possibilitar a troca de experiências entre os profissionais, permitiu o compartilhamento dessa mudança de visão que começa a enxergar as PIC com outros olhos. "O encontro também deixou bem claro que a visão que há hoje não é de competição, mas sim de cooperação. A preocupação deve ser com outro. Temos que deixar de lado definitivamente essa história de prática dominante e prática dominada. O compromisso maior do médico é com a cura, com o paciente. O foco tem de estar no benefício que você faz pensando no outro".

As PIC começaram a ser introduzidas no Sistema Público de Saúde brasileiro a partir dos anos de 1980. O Brasil, inclusive, foi o primeiro país da América Latina a introduzir as PIC no sistema de saúde. Entretanto, somente após a regulamentação da Portaria 971 (03/05/2006) é que as PIC começam a ganhar força. A portaria introduz as PIC no SUS e amplia o acesso da população ao serviço. A criação do Programa Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) também passou a ser um importante aliado para o fortalecimento das PIC nos estados e municípios.

O seminário promovido pela coordenação das PIC no Estado conseguiu reunir debatedores das mais diversas correntes, que apresentaram uma rica diversidade de conteúdos e vivências sobre o tema. Destaque para as mesas que discutiram as "PIC Integradas à Saúde Indígena", "Potencial na Integração Social e a Influência na Qualidade de Vida: Farmácia Viva e Horta Comunitária" e "As PIC em Defesa da Vida: A Aplicação nos Pacientes Oncológicos e nos Cuidados Paliativos".

Nesta entrevista Ana Rita de Novaes, que é também coordenadora do Centro de Referência em Homeopatia e Acupuntura (CRHA) da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), explica como as PIC têm evoluído no Estado e faz um apanhado dos melhores momentos do seminário.

- Século Diário: o seminário cumpriu sua missão?

- Ana Rita Novaes: Acredito que a maior contribuição do seminário foi poder trazer esta possibilidade de discussão em prol de uma mudança de paradigma da saúde. Poder conhecer as novas práticas e abordagens que estão sendo utilizadas e compartilhar esta mudança de visão. Porque, talvez, tão importante quanto conhecer o trabalho que o outro está desenvolvendo, é conhecer essa visão que as pessoas têm diante da prática que elas realizam no dia-a-dia. De uma forma geral, acho que o seminário transmitiu o comprometimento e cuidado dos profissionais com o ser humano. Por exemplo, a mesa que discutiu 'As PIC em Defesa da Vida: a Aplicação nos Pacientes Oncológicos e nos Cuidados Paliativos' deixou isso bem evidente. Quando temos um paciente com um tumor em fase terminal, todos nós sabemos que há muito pouco a fazer. E não existe, justamente nessa fase mais crítica da doença, nenhum suporte para o paciente e seus familiares integrado à rede pública de saúde.

- Foram apresentadas propostas para tratar os pacientes terminais com as PIC?

- Nós hoje estamos trabalhando para introduzir mudanças na Secretaria de Estada da Saúde (Sesa) nesse sentido. Nós discutimos no seminário a inserção de práticas integrativas não só para pacientes terminais, mas também para pacientes que tomam medicamentos potentes para conter a dor. O médico José Pulido, de Cachoeiro de Itapemirim, que trabalha com pacientes terminais, destacou a importância de você se aproximar do paciente nesse momento de dor profunda. Pulido lembrou que lidar com a dor já é difícil, agora, lidar com a dor de quem você vai perder é ainda mais complicado. Nessa mesa, foi discutido o uso da acupuntura para amenizar a dor desses pacientes, que normalmente tomam doses altíssimas de morfina. E outras drogas para a dor. Também se falou sobre a contribuição do médico homeopata no sentido de oferecer cuidados e suporte a este paciente, sempre a partir de uma visão mais integral do ser humano.

- Essas discussões sempre contemplam a visão de se integrar as PIC à medicina convencional?

- Sem dúvida. O encontro também deixou bem claro que a visão que há hoje não é de competição, mas sim de cooperação. A preocupação deve ser com outro. Temos que deixar de lado definitivamente essa história de prática dominante e prática dominada. O compromisso maior do médico é com a cura, com o paciente. Então o foco tem de estar no benefício que você faz pensando no outro. Eu costumo dizer que a homeopatia não é a melhor prática para tratar infarto agudo do miocárdio, por exemplo, há outras terapias melhores, mas, por outro lado, é muito eficiente, por exemplo, para tratar as infecções das vias aéreas de crianças.

- Em Cachoeiro, esse serviço já funciona integrado, ou seja, a medicina convencional e as PIC?

- O serviço ainda não funciona integrado, mas o doutor Pulido demonstrou no seminário grande interesse de introduzir as PIC ao serviço. O primeiro passo da Sesa foi criar uma política estadual de práticas integrativas. Neste momento, estamos em um processo de articulação com as secretarias municipais, com serviços de saúde, com equipes do Programa de Saúde da Família, com o objetivo de introduzir as PIC onde há demandas prioritárias hoje. Precisamos definir pontos estratégicos para que nossa contribuição de fato possa ser efetivada. O importante é que estamos realizando essa discussão em rede e essa metodologia de organização tem sido muito positiva para fortalecer o debate e integrar os profissionais.

- Quais seriam alguns pontos prioritários para introduzir as PIC na rede pública?

- A Rede de Oncologia, por exemplo, é um local indicado para os profissionais da acupuntura, da homeopatia e da fitoterapia. Por isso, destaquei a participação do doutor Pulido no seminário. Embora ele ainda não esteja trabalhando com as PIC, ele já está discutindo esta possibilidade com outras profissionais, porque acredita que a introdução das PIC pode ser positiva para os pacientes atendidos pelo serviço. Além da Rede de Oncologia, as PIC poderiam ser aplicadas na Saúde do Índio, na Rede de Atenção à Mulher e à Criança, principalmente nos casos das doenças respiratórias infantis. Dentro desse universo de possibilidades, existem pontos estratégicos. No município de Domingos Martins, por exemplo, já existe uma predisposição em desenvolver esse trabalho integrado. Lá já existe um profissional que trabalha com fitoterapia e homeopatia. Paralelamente, estão sendo discutidas mudanças na política de atendimento do hospital de Domingos Martins. Esse conjunto de fatores torna o momento propício para introduzirmos a discussão. É importante destacar que o Estado entra como regulador, mas quem vai realizar as ações são os municípios. Por isso o trabalho de articulação com as prefeituras é fundamental. O seminário também tem a função de divulgar para fomentar o acesso da população às PIC por meio do SUS, que é a porta primária de entrada.

- Toda essa discussão ganhou força no Brasil a partir de 2006, com a Portaria 971, que reforça essas práticas no SUS com a criação do Programa Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). A portaria prevê linhas de financiamentos para os municípios introduzirem as PIC?

- Ainda não. Inclusive, a coordenadora nacional do programa, Carmem de Simoni, que participou do seminário e abordou essa questão. Ela garantiu que o Ministério da Saúde, em breve, vai transferir recursos para os municípios com o objetivo de introduzir as PIC no SUS. Carmem explicou que até então as PIC estavam ligadas ao Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, mas que agora será criada uma secretaria específica para as PIC. Com a nova secretaria, segundo Carmem de Simoni, os municípios passarão a receber linhas de financiamentos específicas para o desenvolvimento das PIC.

- A abertura dessa linha de financiamento viabilizaria a execução de projetos municipais que já estão engatilhados no Estado.

- Com certeza. Por exemplo, o projeto que temos interesse de fazer junto com as comunidades indígenas de Aracruz, só será possível se houver uma parceria com a prefeitura do município. Com a introdução de recursos federais, a viabilidade dos projetos aumenta.

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