sábado, 23 de agosto de 2008

BLOG: Èlúsion pédion - Moacyr Scliar," A modesta glória dos abstêmios"

DO BLOG:
" Êlúsion pédion
Na mitologia grega, os campos elísios - ou, simplesmente, Elísio (em grego Ἠλύσιον πέδιον, "Êlúsion pédion") - eram o lugar onde Hades, os heróis e as pessoas de virtude repousavam após a morte.
Terça-feira, 8 de Julho de 2008
"A modesta glória dos abstêmios", de Moacyr Scliar
A modesta glória dos abstêmiosAgora, os abstêmios estão vivendo um pequeno e modesto momento de glória. A menos que a gente coma bombom de licor, podemos dirigir sem maiores problemas, sem medo da polícia. A aflição geral não nos atinge.Moacyr ScliarÉ possível que a chamada Lei Seca seja um tanto exagerada, a começar pela possibilidade de prisão de pessoas – considerando que não há mais lugar no sistema prisional brasileiro e considerando que a cadeia não melhora ninguém, trata-se de uma medida problemática, para dizer o mínimo. Tem-se a impressão de que o Brasil, como não é raro acontecer, foi do oito para o 80: não se fazia quase nada nessa área, agora se quer fazer tudo, o que em algum momento exigirá uma correção de rumo.Exageros à parte, contudo, devemos admitir que a medida era necessária. Prova-o a diminuição dos acidentes: uma queda de 20% na cidade de São Paulo, e isto apenas no segundo final de semana após a entrada em vigor da lei. E prova-o também a surpreendente aprovação: 77% dos motoristas ouvidos por ZH estão de acordo com a medida (no Rio e em SP, esta porcentagem chega, de acordo com a Folha de S. Paulo, a 86%). Finalmente, é preciso dizer que existem pessoas a quem a medida não incomoda e até dá certo conforto. É o caso daqueles que não dirigem. E é o caso daqueles que, como este que vos fala, são abstêmios.Não bebo. Como é que vocês acham que digo esta frase, caros leitores? Com orgulho, com arrogância, em tom de desafio? Não. Em geral, faço-o de maneira constrangida, quase em tom de desculpa, tão incorporada está a bebida alcoólica à nossa cultura. Tenho de explicar que essa atitude não resulta de motivos morais, ou religiosos, ou mesmo médicos, e que, não, em outras coisas não sou abstêmio. Não bebo simplesmente porque nunca aprendi a beber, nunca treinei meu organismo para aceitar o álcool como um estímulo agradável, como tranqüilizante, como consolo. Álcool, para mim – como para toda pessoa que bebe pela primeira vez – tem gosto desagradável. Posso brindar a um amigo com um pouco de vinho, e, ah, sim, e às vezes tomo Malzbier. Isto mesmo: Malzbier. Riam, podem rir.Invejo as pessoas que conhecem vinhos, que são capazes de ficar comentando durante horas o sabor e o buquê de determinada marca, de determinada safra, usando adjetivos elegantes como “encorpado”. Existe aí um componente de refinamento, de arte até, que é até digno de admiração.Agora, os abstêmios estão vivendo um pequeno e modesto momento de glória. A menos que a gente coma bombom de licor (mas um verdadeiro abstêmio nem tocaria nisso), podemos dirigir sem maiores problemas, sem medo da polícia (e, se formos detidos numa barreira, podemos até fazer um pequeno pronunciamento sobre o assunto). A aflição geral não nos atinge. E podemos até dar conselhos: experimentem suco de laranja. É saudável, é natural, tem vitamina C. E existem algumas safras fantásticas. Vocês vão gostar. É a glória.Fonte: Jornal “Zero Hora” nº. 15656, 8/7/2008.
Postado por Martinho Carlos Rost às 10:38
Marcadores: Moacyr Scliar, Texto, Zero Hora

1 comentários:

Fernando Claro disse...

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2008

Caríssimo Moacyr Scliar,Tudo bem?

Há pessoas como você que sabem beber.

Outras, lamentavelmente, metem até o pé na jaqueira!

Diria até que já "tomei todas", parei e não pretendo tornar a encher o pote.

O grave nisso tudo é que quem não bebe fica estigmatizado e deixa de ser convidado para os encontros, para as mesas de bares, por significar, no meu entendimento de dublê de “psi” um censor para aqueles que continuam bebendo.

Eles nos enxergam como seus superegos e chegam até a ter raiva de nossa caretice, quando na verdade a caretice é que é o maior barato.

Pelo menos assim tem sido após seis bons anos sem ingerir etil.

Podemos perder até "amigos" e "companheiras" com nossa caretice, mas, ao fim e ao cabo, e no fundo no fundo, ficamos no lucro e conquistamos outras pessoas honradas, inteligentes, com posições libertárias e humanistas, enfim, com propostas melhores para nossa espécie, como pensar de forma lúcida e levantar velhas bandeiras progressistas já esquecidas ou deixadas cair ao chão, seja pela fraqueza de suas mãos, “entorses” psicológicos e psiquiátricos graves, pancreatites, cirroses e complicações neurológicas advindas do álcool e etc.

Como sou imperfeito e em construção, sempre que percebo em mim um preconceito tento entendê-lo, objetivando destruí-lo.

Enquanto não consigo destruir procuro não exercitá-lo, mas nem sempre consigo.

Não sou extremista, e não renego nem tenho preconceito com quem bebe e/ou fuma.

Admiro as pessoas equilibradas e sabemos até que oxigênio demais dá tonteira.

A questão é a quantidade.

Eu admito, não confio, ainda, em meu equilíbrio.

Por isso, afasto de mim o cálice! Tenho certeza que o Brasil e seu Povo é grande, e a democracia deve congregar e não segregar, apartar.

Triste quando somos criticados por bebermos e criticados quando deixamos de beber. É muita intolerância e prepotência!

O que não posso é coonestar com as campanhas milionárias de estímulo e apologia à droga álcool!

Que tal um brinde com água mineral ou de frutas essencialmente nacionais?

Saudações fraternais e parabéns por sua alta qualificação profissional e sensibilidade.

Brindemos, pois, à nossa saúde e a do próximo pois o trânsito tem desgraçado inúmeras famílias no Brasil e no mundo.

Fernando Claro

Quarta-feira, 30 de Julho de 2008 17h09min00s BRT
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