Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como é a expectativa geral, tomar a única atitude digna no caso de Cesare Battisti -- livrando-o da odiosa vendetta dos neofascistas italianos e demais inimigos dos ideais de 1968 --, 2010 terminará como o ano recente em que o sistema, ao peseguir opositores sob falsos pretextos, mais exibiu sua nudez e piores derrotas sofreu.
Tentou intimidar o grande cineasta Roman Polanski ao exumar uma longínqua e já superada acusação, relativa a um caso (em que ele, sim, havia sido a vítima) do que a crônica policial brasileira outrora denominava suadouro (extorsão contra homem que manteve relações sexuais com uma prostituta e teme sua repercussão).
O fato de a isca haver sido uma modelo de apenas 14 anos não alterava a essência do episódio. Que pais zelosos deixariam sua filha sozinha e desprotegida numa festa, à mercê de figurões de Hollywood?
A firme reação de personalidades e de governos -- principalmente o francês -- fez abortar a armação estadunidense-suíça contra Polanski.
Mais descarada ainda foi a perseguição a Julian Assange, na verdade por revelar segredos da corte, mas alegadamente por não gostar de transar com preservativos (detestados pela quase totalidade dos homens do planeta).
Acusação tão ridícula e ínfima jamais levaria ao acionamento da Interpol, não fosse ele uma pedra no sapato dos EUA. Ninguém engoliu a patranha, nem mesmo o Cândido do Voltaire.
Assange acabou se tornando o grande herói da humanidade neste final de ano. Merecidamente, pois a exposição dos segredos de estado e, em termos gerais, a transparência são o que cada vez mais nos salvará de sermos feitos de idiotas pelos podres poderes.
Finalmente, chega a hora do desfecho do Caso Battisti, o antigo militante da ultraesquerda italiana em cujas costas um arrependido descarregou quatro assassinatos que logo tiveram de ser reduzidos a três e são, na verdade, nenhum.
Escolhido como troféu pelo inacreditável Governo Berlusconi, acabará se constituindo, isto sim, em mais uma acachapante derrota do discípulo de Mussolini.
Felizmente, Kafka está superado. O Processo não se desenvolve mais nas sombras e os cidadãos com espírito de justiça agora conseguem salvar Joseph K., como fizeram nestes três episódios.
* Jornalista e escritor.http://naufrago-da-
utopia.blogspot.com
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