segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Trabalhos forçados na France Telecom, por Mauro Santayana. O CLARO: Aqui no Brasil é diferente?

Trabalhos forçados na France Telecom
Mauro Santayana

Privatizada em 1997 – no delírio do neoliberalismo globalizador – a France Telecom dispensou, desde então, 70 mil empregados. As empresas estatais francesas foram concebidas para servir ao desenvolvimento econômico – mas também social. Elas atraíam os jovens técnicos e administradores, entre outras vantagens, por assegurar uma carreira segura, em troca da dedicação ao trabalho, e o orgulho de que seu patrão era o povo.

Nos últimos 18 meses, 23 trabalhadores da empresa se mataram – cinco vezes mais do que o índice de suicídios na população francesa em geral – além de número não revelado de tentativas frustradas. Segundo denúncias do sindicato da categoria e dos próprios trabalhadores – entre eles os que exercem funções gerenciais – a política da empresa é a de buscar o lucro a qualquer custo (4 bilhões de euros no último ano). O pessoal é mantido sob tensão permanente, pressionados a deixar o emprego. Os trabalhadores só têm um minuto para ir ao banheiro, obrigados a justificar-se por escrito, se excedem esse tempo.

O instrumento mais usado para provocar a angústia dos assalariados é a transferência de posto de trabalho, de um dia para outro. Os chefes intermediários também são submetidos à mesma prática, exigida pela “reengenharia empresarial” e conhecida pela expressão inglesa Time to move: raramente permanecem no posto por mais de um semestre. É necessário cortar o relacionamento continuado, ou de amizade, entre chefes e subordinados, a fim de que não intercedam em favor daqueles escolhidos para serem demitidos, rebaixados de cargo ou transferidos. Engenheiros são constrangidos a trabalhar no departamento comercial, e administradores forçados a cuidar de equipes técnicas.

Essas pressões se repetem, em todas as empresas que foram estatais, e na maioria das que sempre foram privadas. É o fundamentalismo mercantil, que a crise de Wall Street não foi capaz de abalar. Os nazistas criavam programas de lazer e cultura, esporte e turismo, para seus nacionais, a fim de compensar o esforço exaustivo exigido pela economia de guerra, imposta a partir da ascensão de Hitler. A “alegria pelo trabalho” era um embuste, mas muito mais inteligente do que a pressão constante a que estão submetidos os trabalhadores sob a ditadura atual do mercado.

Anteontem, o presidente Nicolas Sarkozy recebeu os economistas Joseph Stiglitz (americano e Prêmio Nobel), Amartya Sen (indiano) e o francês Jean-Paul Fitoussi, dirigentes da comissão criada pelo governo francês a fim de buscar nova forma de medir o desenvolvimento econômico que não seja a do PIB convencional. A comissão recomenda que o desenvolvimento se meça pelo bem-estar das pessoas, pelo que elas recebem da economia em geral, no interior de seus lares, no usufruto da vida; não pelo balanço das empresas, nem pelo aumento nacional de produtividade.

Sarkozy, que não pode ser considerado homem de esquerda, nem filantropo fanático, tocou no ponto certo, ao dirigir-se aos especialistas. “No mundo inteiro”, disse, “os cidadãos pensam que lhes mentem, que os números são falsos, e, pior, manipulados. Nada pode ser mais danoso para a democracia”. A democracia vai além da liberdade de expressão e de eleger os governantes. Ela aspira à igualdade de todos os cidadãos, à isonomia, para voltar ao grego, enfim, ao bem comum, que é o objetivo da República.

O presidente Sarkozy, amparado na circunstância de que o Estado manteve mais de um quarto do capital da France Telecom, ao privatizá-la, determinou a seu ministro do Trabalho que interviesse no assunto. É bom sinal, como é bom sinal a insistência de Barack Obama em colocar rédeas na avidez dos banqueiros, limitando-lhes os bônus milionários.

Os ricos e poderosos sempre dominaram os Estados, ao constituir os governos e controlar a burocracia, mas jamais foram tão insensatos como em nosso tempo. Eles estão – e isso se vê claramente no caso francês – levando os trabalhadores a preferir a morte à humilhação, ao opróbrio.

Seria importante realizar uma investigação entre as antigas empresas estatais (principalmente as de telefonia), hoje privatizadas e controladas por brasileiros ou pelos estrangeiros. Estariam elas tratando os empregados brasileiros de forma melhor do que a France Telecom trata seus empregados franceses?

Segundo a visão sempre lúcida de Hannah Arendt, a escravidão não acabou de todo; mudou apenas de modo.

Um comentário:

Wanderley Elian Lima disse...

Claro que não Fernando, o Brasil sempre copiou modelos estrangeiros para se administrar, não importando com o tipo do modelo. É claro que a forma de tratar o empregado também foi copiado. O que é bom para eles é bom pra nós este é o pensamento.
Abração

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