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José Rabelo
Foto capa: Ricardo Medeiros
Na opinião do arcebispo de Vitória, Dom Luíz Mancilha Vilela (foto), a violência que tomou conta do Espírito Santo é vergonhosa e semelhante a uma guerra. “Não podemos aceitar como uma coisa comum aquilo que mais parece um estado de guerra. Tem cabimento que num único mês 157 pessoas morram vítimas de homicídios só na Grande Vitória?”, questionou o religioso.
No primeiro domingo deste mês (1), a Arquidiocese de Vitória – que congrega 15 municípios e mais de mil comunidades – deu início à Campanha da Fraternidade deste ano, que traz como tema “Fraternidade e Segurança Pública – A Paz é Fruto da Justiça”. A abertura da campanha no Estado foi marcada por uma via-sacra que reuniu mais de cinco mil pessoas. Os fiéis que acompanharam a marcha pela paz fincaram centenas de cruzes no jardim do palácio Anchieta, em Vitória, em alusão aos 15 mil inquéritos que continuam parados nas delegacias do Estado sem resolução. Mais um exemplo do descaso do governo com a questão da segurança pública, que propicia a impunidade e alimenta a cadeia da violência.
Nos últimos anos, o Estado vem ostentando a posição de um dos mais violentos do País – se reveza com Pernambuco e Rio de Janeiro nas três primeiras posições. Em 2007, foram 1.903 homicídios, segundo dados da própria Secretaria de Segurança Pública – uma média de mais de 50 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Em 2008, a situação se agravou: a média de homicídios por 100 mil pulou para 57. Cariacica e Serra estão entre os municípios mais violentos do Brasil. Nas duas cidades, o número de homicídios ultrapassa a marca estarrecedora de mais de 100/100 mil habitantes.
Analisando os primeiros números de 2009 é possível projetar que a marcha da criminalidade deve ser ainda mais cruel e superar as estatísticas anteriores. Dom Luíz Mancilha afirmou que está indignado com a violência e criminalidade que tomam conta do Estado. “Não podemos aceitar como uma coisa comum aquilo que mais parece um estado de guerra. Tem cabimento que num único mês 157 pessoas morram vítimas de homicídios só na Grande Vitória? Isso é estado de guerra. Só mesmo lá no Iraque eles se aproximam desses números. Alguém tem de clamar para pôr fim a essa situação”.
Campanha
O arcebispo explica que a Campanha da Fraternidade no Estado tem a missão de contribuir para uma mudança de violência para uma situação de paz. “Não concordamos com a situação do jeito que está. Ao mesmo tempo, não podemos nos acomodar e aceitar isso naturalmente. Essa situação é vergonhosa. Tudo isso faz parte de uma conscientização e nós vamos provocando a discussão, não só dentro do ambiente católico, mas com toda a sociedade. Porque, afinal, independente de crença, todos almejam a paz”, ressaltou.
Os objetivos específicos da campanha 2009 propõem, entre outras prioridades, os seguintes desafios: desenvolver nas pessoas a capacidade de reconhecer a violência na sua realidade pessoal e social, a fim de que possam se sensibilizar e se mobilizar, assumindo sua responsabilidade pessoal no que diz respeito ao problema da violência e à promoção da cultura da paz; denunciar a gravidade dos crimes contra a ética, a economia e as gestões públicas, assim como a injustiça presente nos institutos da prisão especial, do foro privilegiado e da imunidade parlamentar para crimes comuns; denunciar a predominância do modelo punitivo presente no sistema penal brasileiro, expressão de mera vingança, com a finalidade de incorporar ações educativas, penas alternativas e fóruns de mediação de conflitos que visem à superação dos problemas e à aplicação da justiça restaurativa.
Nesta entrevista exclusiva a Século Diário, o arcebispo foi cuidadoso na hora de apontar culpados para o problema. “Não estamos preocupados em criticar esse ou aquele”. Dom Luíz apresentou alternativas para a superlotação dos presídios, se referindo a uma experiência bem-sucedida aplicada no município mineiro de Itaúna. Comentou também sobre a crise moral e ética que atinge o Judiciário, ressaltando que é muito importante que todas as denúncias sejam apuradas com rigor. O líder católico defendeu também que a escolha do novo presidente da Assembléia Legislativa, por chapa única, segue na contramão da democracia. “Fico surpreso que numa democracia exista uma eleição com chapa única para a presidência da Assembléia Legislativa. Acredito que os deputados deveriam fazer suas escolhas a partir do debate sobre questões fundamentais”, sugeriu.
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