sexta-feira, 3 de outubro de 2008

"A CRISE AMERICANA E NÓS", por ZÉ DIRCEU. Com comentário de O CLARO

FONTE: WWW.ZEDIRCEU.COM.BR -

12/09/2008 09:13

A crise americana e nós Por Zé Dirceu
(artigo publicado no Jornal do Brasil, em 11 de setembro de 2008)

Tudo indica que a crise americana ainda vai dar muita dor de cabeça ao Brasil. A Bolsa de Valores brasileira é altamente dependente de commodities, e nosso mercado acionário, de capitais externos atraídos por altos juros. Isso mantém nossa moeda super valorizada, mas agora ela enfrenta o risco de desvalorização por causa da saída abrupta de capitais e da queda dos preços das commodities no mercado internacional.

É ruim para o país precisar de um mercado de capitais forte e ver-se prisioneiro dos altos juros e das incertezas do mercado acionário. Seus empresários têm que apelar para o BNDES e para o Banco do Brasil, cujos juros, na prática, são subsidiados pelo Tesouro ou pelo FGTS.

Nada indica que teremos uma solução a curto prazo nos Estados Unidos, apesar do corte nos juros e nos impostos, e do pacote de US$ 200 bi para as duas maiores agências hipotecárias do país, a Freddie Mac e Fannie Mae. Parece que não foi suficiente. Afinal, as perdas no setor já cheqam a US$ 500 bilhões. Os ativos continuam se desvalorizando, hipotecas e ações derretendo, o desemprego aumentando, a confiança do consumidor caindo e a inflação subindo. Esse clima de queda em tudo mantém-se, apesar do crescimento econômico de 3,3% no último semestre, bastante dependente do dólar desvalorizado e do aumento das exportações.

Os reflexos no mundo são amplos. Vão desde a Irlanda até ao Japão, atingindo todas as economias do G-7. E a situação só não é pior porque os bancos centrais (BCs) da Europa e do Japão também socorreram seus mercados. Não fossem os chamados BRICs ( grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia e China), especialmente a China, o mundo já viveria uma recessão sem precedentes.
Mas, tudo indica que esses países - com exceção do Brasil - não estão dispostos a seguir a cartilha ortodoxa. Eles têm adotado medidas para incentivar o crescimento e manter a demanda interna. Mesmo com a queda das exportações e os problemas enfrentados com a alta do petróleo, que afeta mais a Índia e a China.
O Brasil deveria olhar muito mais seus irmãos do bloco BRICs e não tanto para Nova York ou Londres. A política econômica deveria ser toda direcionada no sentido de incentivar e manter o crescimento do nosso mercado interno, do emprego e da renda, do aumento dos investimentos públicos e privados, e da aceleração das concessões no setor de infra-estrutura. Também deveria ter, como motor básico, a garantia da integração com a América do Sul e a ampliação do comércio com a Ásia. Essas são as alternativas para o Brasil não correr o risco de deixar de ser um BRIC.


Precisamos acreditar que seremos capazes de abastecer nossa economia de insumos e matérias primas, de energia e mais produção agrícola e industrial, de investir no desenvolvimento urbano, e que vamos solucionar nossos pontos de estrangulamento na educação e na infra-estrutura. Para isso é necessário aumentar os investimentos públicos, e não ampliar o superávit ou criar um Fundo Soberano que, na verdade, não passa de um Fundo de Estabilização, já que não vai nem financiar empresas no exterior e nem capitalizar o BNDES.

Precisamos aprender, e rápido, com os Estados Unidos. Chega de PIB potencial e de restrições ao crédito. Basta de ortodoxia, da atual política de juros altos do BC, e de restrições ao crédito e à demanda. Precisamos, antes que seja tarde, nos preparar para a crise que virá. E preparar-nos crescendo, sustentados no mercado interno e no aumento dos investimentos. É a única forma que temos para escapar dos efeitos de uma recessão no G-7, que inevitavelmente nos atingirá. A Bovespa dos últimos dias que o diga.

Copyright © 1995, 2000, Jornal do Brasil. É proibida a reprodução
total ou parcial do conteúdo para fins comerciais

COMENTÁRIOS:

02/10/2008 08:42
[Fernando Claro]

Caríssimo, tudo bem?

Gostaria de registrar que entendo este seu artigo, no contexto da cirse do Império e seus desdobramentos, muito mais realista do que a posterior, sob o título Quando a crise chegar, se chegar.

Creio e pugno que a saída é voltarmos a atenção para o mercado interno, emprego e consolidar parcerias com países que tenham relações recíprocas e responsáveis com o Brasil.

Não sou especialista e sugiro uma tréplica contextualizada para que uma nova visão seja lançada, e mais luz seja projetada nesta escuridão.

O BRASIL PARA OS BRASILEIROS!

Fernando Claro"

Nenhum comentário:

Postagem em destaque

Portal da SBO - Sociedade Brasileira de Oftalmologia Dia Nacional de Combate ao Glaucoma é 25 de maio | O CLARO: Vá periodicamente ao oftalmologista. O glaucoma pode levar à cegueira!

.: Portal da SBO - Sociedade Brasileira de Oftalmologia :. Façam um blogueiro feliz...rsrs Caso queiram DOAR qualquer VALOR para a MANUTE...